terça-feira, 20 de setembro de 2011

PT, Lula, Guimarães Rosa e a Chapada


Por: Almir Moreira – Advogado

Nenhum povo muda de regime político ou cultural da noite para o dia, a mudança opera de forma gradual e ou em zigue zague. Até as revoluções não estão imunes ao cumprimento desta lógica.

A religião cristã, por exemplo, para ser aceita, teve que levar o antigo testamento grudado nela. Novo e velho testamento não têm nada haver um com o outro, mas se assim não fosse, o povo da época não se convertia. Algumas situações, datas e festas relativas a esse período histórico continuaram as mesmas. A festa do solstício de verão virou a festa de natal, por exemplo.

Com a mitologia grega deu-se a mesma coisa. O povo romano adaptou-a ao seu interesse ao ponto de só trocar em alguns casos somente os nomes dos personagens. Zeus virou Júpiter, Posseidon virou Netuno e por aí vai com o restante do panteão grego, a exceção de Apolo, permaneceu Apolo.  

Mudança repentina, heróica, pura, repousa em última instância na imaginação pueril e na autoridade de pseudos políticos de partido. Se quisermos mudança com precisão, devemos observar a história do homem, e ver o que ela nos sugere. Ela condiz muito mais com a idéia de uma construção gradativa, em etapas, do que com a idéia de uma criação repentina e instantânea, e que seu vai e vem irregular combina muito mais com a idéia de respeito a forma como a sociedade está estruturada. 

Lula e o PT são o grande exemplo, insisto. Esta história de dizer que Lula é o supra-sumo da política é puro papo e idiotice; só depois de criar muitos calos na cabeça aprendeu, e graças que aprendeu, tai seu grande mérito. Se não se aliasse nada conseguiria. Sua aliança sofre percalços? Sofre. Mas o resultado é mais favorável ao povo, a afirmação da democracia e a inclusão social comprovam o quanto foi interessante a política petista de compreensão de que o poder não se conquista e não se exerce na solidão. 

Assim é aqui na Chapada, minha gente. A política partidária real, a que o povo enxerga, a que o povo fala, a que o povo sente e a que mobiliza continua como dantes, restrita a dois grupos. Cabe a interpretação correta desta conjuntura para se afirmar qual deles é mais capaz de responder as demandas da nossa sociedade, assim como em qual deles a atuação dos democratas pode ocorrer de forma mais efetiva.  

Quando se pensar política na Chapada deve se pensar em ópera, como Guimarães Rosa pensou o sertão. "Política na Chapada é onde manda quem é forte, com as astúcias (ou granas). Deus, mesmo, se vier, que venha armado".


Um comentário:

adriana disse...

Ainda sobre a política na Chapada e também citando Guimarães Rosa: "E, outra coisa, o Diabo, é às brutas; mas Deus é traiçoeiro! Ah, uma beleza de traiçoeiro - dá gosto! A força dele, quando quer - moço ! - me dá o medo pavor! Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei do mansinho - assim é o milagre. E Deus ataca bonito, se divertindo, se economiza.
Finalizando com o mesmo autor, sobre as "artimanhas" das articulações locais: "eu quase que nada não sei, mas desconfio de muita coisa."