sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Qual é a Graça?


Por Abdon Marinho (advogado)
Segundo um amigo, fora nossas tragédias do dia a dia, o assunto que mais “bombou”, na internet essa semana, foi a inauguração de uma escada rolante na cidade de Chapadinha. Confesso que cheguei a ver algo nas páginas de relacionamento ou em algum dos blogues que costumo acessar, porém sem dá muita importância. Pensei: mais um vídeo como tantos que pululam a internet sobre os mais variados assuntos.
O amigo então me disse do que se tratava e o estranhamento que isso causou na capital, onde muitos passaram a criticar o fato de se inaugurar uma escada rolante e, mais ainda, o fato de uma grande quantidade de pessoas chegarem a se aglomerar e a causar um certo tumulto para “andar” na dita escada.
Voltei a um blogue e vi que o titular diz parecer piada o acontecido na cidade de Chapadinha. Esse aliás, o comportamento da maioria da população. Acharam engraçado, alguns, nas redes sociais, disseram ser bizarro (palavra que nos últimos tempo tem servido para quase tudo). Pensava sobre isso no retorno para casa. O fato não tem nada de engraçado, pitoresco ou bizarro.
Na verdade, é mais um motivo de vergonha para o nosso estado. Entendo que este acontecido deva servir para reflexão, sobre o nosso modelo de desenvolvimento, um modelo tão “igualitário” que em uma cidade do porte da cidade em referência, as pessoas provoquem todo aquele tumulto para “andarem” de escada rolante. Com mais de 76 mil habitantes, o Município de Chapadinha é um dos maiores do Maranhão. A sua sede é uma referência regional, é a maior cidade do alto parnaíba, ainda assim, como de resto em todo o estado, as pessoas não tem acesso as coisas que em outros lugares são corriqueiras ou triviais.
O mais grave não é as pessoas não conhecerem uma escada rolante, formarem filas para usar e a loja até disponibilizar um instrutor para auxiliar as pessoas no uso de tão “moderno” engenho. Isso é o mínimo. A maioria das cidades do Maranhão não possuem construções com mais de dois pisos, na verdade a maioria é de construções térreas. Logo não é estranho que as pessoas não conheçam o engenho que foi inaugurado. Mais detalhes aqui
O nosso povo é muito simples, vive em um mundo de muita miséria. Num dos comerciais do governo do estado fica bem explícito esta situação quando um avô narra o encantamento do seu netinho com uma estrada asfaltada. Ele diz que a criança voltou para ele contando a maravilha que era a estrada, uma estradinha “brilhosa”. Vez por outra lembro da história da estradinha “brilhosa”. Dimensionem isso. A criança encantada com uma estrada. Aí ignoram que as pessoas se espantem com uma escada rolante?
Nossos irmãos, motivos de risos para alguns, são vítimas de uma estado que não lhe garante sequer o conhecimento de coisas básicas, essenciais, capazes de se encantarem com uma estrada, como mostrado no comercial que vende o governo do estado.
Quem conhece o Maranhão sabe que essa é a nossa realidade. A maioria da nossa população vivendo em condições subumanas, sem acesso a coisa nenhuma. Muitos não sabem o que é ter água encanada, muitos não sabem o que é uma rede esgoto, muitos sequer têm banheiro em casa. Muitos que falo, é a maioria da população. Isso em pleno século 21, tempo da alta tecnologia, da robótica, da comunicação em tempo real, da internet, etc. Pois nestes tempos em que para alguns as coisas parecem tão normais, temos pessoas que não sabem o que é ter um banheiro com um vaso sanitário, uma torneira com água corrente, pessoas que não sabem o que é uma estrada asfaltada, muitos amanhecem e anoitecem sem ter o que colocar numa panela para comer. É essa é a realidade.
Antes de nos causar riso, a cena vivenciada em Chapadinha deve nos causar indignação, nos fazer sentir humilhados por vivemos num estado onde, em pleno século 21, esse tipo de coisa ainda acontece.
O vídeo exibido como motivo de escárnio por muitos, assim como a estrada “brilhosa” que o governo do estado exibe de hora em hora, deveria nos fazer refletir, sobre o que vem acontecendo com o nosso estado onde bem poucos tem muito, enquanto a maioria da população ainda se encanta com uma escada rolante, com uma estrada, com uma ambulância… Não é engraçado que nossos irmãos vivam na idade da pedra.
As pessoas precisam se darem conta que isso é um dos sinais da nossa desgraça. E, que a desgraça não tem graça nenhuma.
do Blog John Cutrim 

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