terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Atentado aos Repórteres do Fantástico: Absolvição e (Quase) Esquecimento 4 Anos Depois

Gráfico da Reconstituição / Rede Globo

Dois repórteres de emissora de televisão mais poderosa do país almoçavam em uma churrascaria e nem de longe desconfiavam que seriam assaltados na pacata cidade de Anapurus. No dia 17 de julho de 2014 Eduardo Faustine – o rosto desconhecido mais famoso do Brasil – e seu colega Luiz Cláudio faziam uma matéria para o programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão, sobre corrupção nas administrações municipais de Mata Roma e Anapurus, quando, por volta das 14 horas, foram interceptados por dois veículos e por grupo armado que conseguiu subtrair uma câmera filmadora profissional SONY.

O caso ganhou forte repercussão na mídia e quatro pessoas conhecidas de Anapurus terminaram presos depois de passarem tempo foragidas. Da ação violenta contra os jornalistas à prisão dos suspeitos, todos sabemos o que aconteceu. O que não se sabia - e que ao que parece que até a Rede Globo, empregadora das vítimas, demonstra não ter interesse em saber – era o desfecho do caso, até que o blog teve acesso à sentença judicial que encerrou o caso, como veremos adiante, de forma extremamente satisfatória para quem mandou e executou o roubo de material de trabalho dos repórteres.

Após reconhecerem os acusados como executores na fase de inquérito, na instrução do processo, todas as testemunhas voltaram atrás no reconhecimento. “Na verdade, essa versão só veio no inquérito, essa autoria foi indicada por testemunhas que em seu próprio depoimento também não o fizeram”, diz a sentença do PROCESSO CRIME nº 872-40.2014.8.10.0076.

Não é só o fato de testemunhas terem recuado na identificação dos suspeitos, todos conhecidos naquela pequena comunidade municipal que chama atenção, na sentença, a sequência dos fatos é tratada como mera politicagem: “a conotação política que se deu ao fato, não passou de mera fofoca e não é fundamento de prova, sendo irreversível diante da falta de comprovação de autoria", prossegue o texto da sentença. “E de outra sorte, de que adiantaria levar os equipamentos, se o trabalho poderia ser refeito? Se o roubo teria ocorrido por conta de uma reportagem envolvendo obras não feitas ou inacabadas, levar o equipamento não impediria que tal fosse novamente feito”, pondera a magistrada como quem minimiza poder intimidador da arma apontada e as dificuldades de se refazer a reportagem depois disso e na falta de equipamentos e arquivos.

O próprio Ministério Público pediu a absolvição dos réus e a sentença sugere falta de interesse até das vítimas.

Em busca do não esquecimento deste atentado contra jornalistas, duas coisas se evitam neste texto: especular nomes de executores ou mandantes por mais óbvios que sejam os interesses postos e cobrar condenações sem provas. Por outro lado, a absolvição dos acusados até então, deixa livres impunes os reais autores e mandantes do crime que, apesar de poucos se interessarem pelo esclarecimento, ninguém consegue negar ou esconder que tenha de fato ocorrido.

No fim de tudo a audácia de tentar empastelar a Rede Globo teve êxito, os operadores da humilde mídia local "desaconselhados" do exercício do direito de fiscalizar a gestão pública do nosso entorno e a liberdade de imprensa – essa garantia inalienável – assaltada, desaparecida como a filmadora do Fantástico.     

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