Por: Almir Moreira – Advogado
Nenhum povo muda de regime político ou
cultural da noite para o dia, a mudança opera de forma gradual e ou em zigue
zague. Até as revoluções não estão imunes ao cumprimento desta lógica.
A religião cristã, por exemplo, para ser
aceita, teve que levar o antigo testamento grudado nela. Novo e velho
testamento não têm nada haver um com o outro, mas se assim não fosse, o povo da
época não se convertia. Algumas situações, datas e festas relativas a esse
período histórico continuaram as mesmas. A festa do solstício de verão virou a
festa de natal, por exemplo.
Com a mitologia grega deu-se a mesma coisa. O
povo romano adaptou-a ao seu interesse ao ponto de só trocar em alguns casos
somente os nomes dos personagens. Zeus virou Júpiter, Posseidon
virou Netuno e por aí vai com o restante do panteão grego, a exceção de
Apolo, permaneceu Apolo.
Mudança
repentina, heróica, pura, repousa em última instância na imaginação pueril e na
autoridade de pseudos políticos de partido. Se quisermos mudança com precisão,
devemos observar a história do homem, e ver o que ela nos sugere. Ela condiz
muito mais com a idéia de uma construção gradativa, em etapas, do que com a
idéia de uma criação repentina e instantânea, e que seu vai e vem irregular
combina muito mais com a idéia de respeito a forma como a sociedade está
estruturada.
Lula
e o PT são o grande exemplo, insisto. Esta história de dizer que Lula é o supra-sumo
da política é puro papo e idiotice; só depois de criar muitos calos na cabeça
aprendeu, e graças que aprendeu, tai seu grande mérito. Se não se aliasse nada
conseguiria. Sua aliança sofre percalços? Sofre. Mas o resultado é mais
favorável ao povo, a afirmação da democracia e a inclusão social comprovam o quanto
foi interessante a política petista de compreensão de que o poder não se
conquista e não se exerce na solidão.
Assim
é aqui na Chapada, minha gente. A política partidária real, a que o povo
enxerga, a que o povo fala, a que o povo sente e a que mobiliza continua como
dantes, restrita a dois grupos. Cabe a interpretação correta desta conjuntura
para se afirmar qual deles é mais capaz de responder as demandas da nossa
sociedade, assim como em qual deles a atuação dos democratas pode ocorrer de
forma mais efetiva.
Quando se pensar política na
Chapada deve se pensar em ópera, como Guimarães Rosa pensou o sertão. "Política
na Chapada é onde manda quem é forte, com as astúcias (ou granas). Deus, mesmo,
se vier, que venha armado".
Um comentário:
Ainda sobre a política na Chapada e também citando Guimarães Rosa: "E, outra coisa, o Diabo, é às brutas; mas Deus é traiçoeiro! Ah, uma beleza de traiçoeiro - dá gosto! A força dele, quando quer - moço ! - me dá o medo pavor! Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei do mansinho - assim é o milagre. E Deus ataca bonito, se divertindo, se economiza.
Finalizando com o mesmo autor, sobre as "artimanhas" das articulações locais: "eu quase que nada não sei, mas desconfio de muita coisa."
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