sexta-feira, 14 de maio de 2010

A Arte de Escrever


O professor Ivandro Coelho manda artigo a respeito do texto “Onde Está a Verdade?”. Publico na íntegra. Volto comentando depois em outro post.

Caro Alex,

Segue uma pequena contribuição ao debate sobre o texto “Onde está a verdade?”. Especificamente sobre o parágrafo em que você – ao justificar sua posição, digamos, tolerante em relação aos erros gramaticais cometidos pelos outros – afirma: “ainda que por tortuosos meios o que vale é a informação e o argumento”.

Se você me permite, discordo de sua opinião. Como você sabe, sou um dos que torcem o nariz para as gafes gramaticais dos outros. E o nariz, a boca e o resto do corpo para as minhas próprias falhas. Quando as cometo – e olhe que não são poucas -, sinto vontade de tomar chumbinho...rsrs

É verdade que todo mundo erra - inclusive eu, você e o Luís Fernando Veríssimo. Certo. Mas isso não justifica o fato de que devamos ser lenientes com os absurdos que se comete diariamente contra a nossa língua materna. Principalmente quem trabalha com a informação.

Penso que o cuidado com a Língua de Camões – riquíssima, aliás, e cheia de possibilidades sintáticas que outras línguas não têm – deve ser um princípio básico de quem se propõe a escrever para determinado público. Além, é claro, de outros três requisitos fundamentais: clareza, elegância e criatividade.

Isso, no meu entender, não tem nada de “patrulhamento”, mas sobretudo de respeito ao leitor e a si próprio como profissional. Uma coisa é escrever diário, carta de amor, bilhetinho para a vovó; outra é escrever sobre acontecimentos políticos e culturais num veículo de grande alcance. No último caso, o compromisso com os fatos deve estar intimamente associado ao rigor lingüístico.

A crença de que informação e argumento importam mais do que a maneira como eles se expressam parte de uma idéia - comum até entre lingüistas, mas a meu ver equivocada -, segundo a qual pensamento e linguagem são duas coisas distintas. Não são. Na verdade estão intimamente associadas.

Por melhor que seja um argumento, ele só tem força quando expresso com clareza e objetividade. Uma escrita torta é reflexo de um pensamento torto, geralmente provocado pelo desconhecimento da língua materna e pela falta de leitura. Coisa muito comum na internet – essa babel eletrônica onde muitos falam, mas quase ninguém diz nada. Felizmente você é uma das exceções.

Só para relembrar o tempo em que discutíamos literatura, há um livro muito interessante que poderia enriquecer ainda mais esse debate. Trata-se de A Arte de Escrever, de Schopenhauer, uma coletânea de cinco dos vários ensaios escritos por ele no livro Parerga e Paralipomena (Acessórios e Remanescentes). Fala sobre escrita, estilo, leitura, crítica e pensamento literário.

Por Ivandro Coelho – Professor e Jornalista.

3 comentários:

Ivanildo Lima disse...

Maravilha de texto, o do professor Ivandro! Enquanto formos "meia boca" seremos alvos fáceis dos manipuladores de mentes. Sou partidário das mesmas ideias (sem acento mesmo) de que um texto bem elaborado chama muito mais a atenção - não à toa, consegui chegar até o final do citado. Maravilhoso notar que não estou sozinho ao pensar assim.
Ivanildo Lima (chapadinhense).
Brasília-DF.

eduardo disse...

acho que o importante é a informação contida no texto. mais vai uma dica é sempre bom recorrer a algumas gramáticas ou programas que façam correções automáticas

adriana disse...

Professor Ivandro,
Suas palavras me deixam sempre com a esperança de que não é vã a luta por uma menos "sofrida" leitura do que nos é posto a conhecer através da internet.
São geralmente doloridos, para os olhos e para o intelecto, os nossos "passeios" por alguns canais de informação - entre eles os de nossa Terra.
Já havia cumprimentado o Jornalista Alexandre pelo bom texto, e agora, cumprimento ao Senhor pela ressalva.
Adriana Cunha (Assistente Social).