O blogueiro Ivandro
Coelho publicou importante texto sobre a briga no governo, entre
seguidores do ex-prefeito Isaías Fortes e aliados do secretário de obras
Aluísio Santos. Reproduzo a postagem dele, comentando em negrito, após cada
parágrafo. Vamos lá.
Cada
um usa o verniz que lhe convém. Para a oposição, Isaías é um coitadinho
injustiçado, enquanto Aluísio é um sujeito maquiavélico, que trama dia e noite
o rompimento da prefeita com o grupo do “dono dos votos”. Belezinha erra,
segundo eles, porque simplesmente assiste a tudo inerte, como se não fizesse
parte do jogo. Nada mais simplório e malicioso.
Em
outros trechos do texto, vou mostrar porque concordo que Isaías não pode ser
considerado coitadinho, nem Aluísio maquiavélico em sentido negativo. Já com
relação a Belezinha, a impressão que passa é que – de fato – acompanha a tudo
sem dizer palavra, não demonstra o que quer ou qual o seu papel neste
jogo.
Na
verdade, Isaías não está nem um pouco enfraquecido. Muito menos injustiçado.
Sua base eleitoral e seu prestígio permanecem intactos. Com uma diferença:
agora ele dispõe de três das principais secretarias – administração, educação e
saúde – para fazer o que mais gosta - política - e, ao mesmo tempo, tentar
turbinar a candidatura de sua filha Isamara. O que mais queria?
Isaías
certamente não é “um pobre coitado”, mas se diz vítima mesmo. Faz sim campanha
junto ao eleitorado que levou Belezinha a vitória, se dizendo injustiçado por
ela. Para tanto, ele usa o argumento de que até os aliados que colocou na
educação e administração hoje não lhe atendem, já pertenceriam à cota pessoal
da prefeita e que na saúde os poderes de seu genro seriam pra lá de limitados.
Outra
coisa: a oposição diz que falta autonomia para gerenciar recursos da saúde. Embora
seja um exagero, nesse aspecto a prefeita está mais do que certa: deve mesmo
acompanhar e controlar os gastos. Um exemplo: no primeiro mandato,
Magno deu total liberdade ao gestor de saúde e o resultado todos já
sabem: um rombo de 1, 2 milhões nos cofres públicos, um vereador
"espoca urna" e um processo no Ministério Público
Federal.
Sem
entrar no mérito, estas linhas só parecem confirmar a falta de autonomia. Em
frente.
Mas
o problema aqui não é falta de autonomia, já que o atual secretário
tanto pode contratar como adquirir equipamentos. O que não se
pode admitir é que um órgão seja transformado em trampolim para uma
candidatura. Muito menos seja usado como escoadouro de recursos para garantir
caixa de campanha. O descontentamento talvez esteja aí, uma vez que
Belezinha, ao que parece, não estaria permitindo isso.
Realmente,
podendo contratar a rodo e adquirir equipamentos até de parentes (fatos
denunciados pelos blogueiros Ivandro e Ernani Maia), o problema aqui é maior
que a falta de autonomia. Antes que a saúde vire trampolim de candidatura
ou garanta caixa de campanha com recursos desviados, o melhor caminho seria a demissão de quem se prepara para assim fazer. Belezinha
teria essa coragem?
Quanto ao argumento de que Belezinha só foi eleita devido ao prestígio político
de Isaías - e que, portanto, lhe deve total gratidão -, há novamente
exagero e malícia. Ora, se é verdade que não se ganha eleição sem
popularidade, também é verdade que só se vence um processo eleitoral com estrutura
financeira e uma ficha limpa. Prova disso é que Isaías, mesmo com todo o
prestígio, foi derrotado duas vezes por Magno e uma por Danúbia. Ou melhor: no
último caso, pela Justiça Eleitoral.
Com
tamanha estrutura financeira – cujo abuso, levantado em processo de cassação
– pode lhe apear do poder e manchar a ficha, Belezinha, por certo, venceu com
outros apoios. Mas Isaías foi de longe quem contribuiu com mais votos, isso é
fato! Sem o apelo por mudança que foi encarnado, porém até agora não correspondido,
por Belezinha, o destino de Isaías talvez seja mesmo o de (sozinho) perder
eleições.
Além do mais, existe uma diferença entre gratidão e subserviência. Entre perdas
e ganhos, Belezinha, no fim das contas, teve muito mais prejuízos do que
ganhos. Se não, vejamos: foi traída e humilhada em plena posse. Está sendo
achincalhada pelos quatro cantos da cidade pela oposição e - o que é pior!
- por aliados. Além disso, ainda está assumindo todo o ônus dos
entraves administrativos provocados por irresponsabilidade de gestões passadas.
Então, senhores, quem está na boa?
Humilhada,
traída, achincalhada pelos quatro cantos até por aliados... ou Belezinha
demonstra gosto espantoso por engolir sapo, é fraca e sem iniciativa ou há exagero na
análise.
Já
os que tentam classificar o secretário de obras como o
"todo-poderoso do governo" querem simplesmente provocar
discórdia e queimá-lo politicamente. Aluísio é apenas alguém que está
contrariando interesses de pessoas que, no fundo, gostariam de estar em seu
lugar. Portanto, caro leitor, é preciso cuidado para não embarcar em
falácias. Essa história de querer vitimizar Isaías e crucificar
Aluísio e a prefeita revela apenas o desejo de quem aposta no pior.
Concordo:
nem oito nem oitenta. Aluísio não é apenas um “rapaz latino americano”
desprovido de prestígio, tampouco é malévolo conspirador com poderes ilimitados.
Falta-lhe, na minha opinião, clareza na estratégia e no combate. Até
porque os demais atores do processo político precisam saber quais interesses precisam
ser contrariados ou contidos.
É certo que as divergências existem, não há dúvida. Mas isso ocorre
em qualquer lugar. Principalmente em governos com uma composição tão
heterogênea como é o de Belezinha. No fundo, é até bom para a sociedade que as
diferenças venham à tona, porque permitem ver de perto os bastidores do poder.
Antes não havia isso. Tudo era maquiado por uma cortina midiática e tinha-se a
impressão de que o governo era coeso e transparente. Pura ilusão.
Uno
este parágrafo com o último, num só comentário. Adiante.
Se
não existe consenso atualmente, nem por isso se pode dizer que o governo está
esfacelado, perdido. Muito menos que existe uma trama maquiavélica para
expulsar Isaías e seus partidários da prefeitura. Ou, ainda, que ele estaria
sendo desprestigiado e injustiçado. Nada disso. Se alguém duvida, basta
observar os fatos para perceber o óbvio: não se trata nem de uma coisa,
nem de outra.
Esfacelado
ou não, o governo ainda precisa mostrar serviço e esta briga interna pode não ser
a única explicação pra tamanha incompetência. Decantado e assumido, o racha
cristaliza a contradição daqueles que (por motivos legítimos, ou apenas
retórica de quem quer mandar sozinho) avaliam Isaías como atrasado e nocivo,
não desejam conviver e não se contentam em dividir poder com ele. Mesmo assim, não admitem fazer uma coisa, nem podem evitar a outra.