Gráfico da Reconstituição / Rede Globo |
Dois
repórteres de emissora de televisão mais poderosa do país almoçavam em uma
churrascaria e nem de longe desconfiavam que seriam assaltados na pacata cidade
de Anapurus. No dia 17 de julho de 2014 Eduardo Faustine – o rosto desconhecido
mais famoso do Brasil – e seu colega Luiz Cláudio faziam uma matéria para o
programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão, sobre corrupção nas
administrações municipais de Mata Roma e Anapurus, quando, por volta das 14
horas, foram interceptados por dois veículos e por grupo armado que conseguiu
subtrair uma câmera filmadora profissional SONY.
O caso
ganhou forte repercussão na mídia e quatro pessoas conhecidas de Anapurus terminaram
presos depois de passarem tempo foragidas. Da ação violenta contra os
jornalistas à prisão dos suspeitos, todos sabemos o que aconteceu. O que não se
sabia - e que ao que parece que até a Rede Globo, empregadora das vítimas,
demonstra não ter interesse em saber – era o desfecho do caso, até que o blog
teve acesso à sentença judicial que encerrou o caso, como veremos adiante, de
forma extremamente satisfatória para quem mandou e executou o roubo de material
de trabalho dos repórteres.
Após
reconhecerem os acusados como executores na fase de inquérito, na instrução do
processo, todas as testemunhas voltaram atrás no reconhecimento. “Na verdade,
essa versão só veio no inquérito, essa autoria foi indicada por testemunhas que
em seu próprio depoimento também não o fizeram”, diz a sentença do PROCESSO
CRIME nº 872-40.2014.8.10.0076.
Não é
só o fato de testemunhas terem recuado na identificação dos suspeitos, todos
conhecidos naquela pequena comunidade municipal que chama atenção, na sentença,
a sequência dos fatos é tratada como mera politicagem: “a conotação política
que se deu ao fato, não passou de mera fofoca e não é fundamento de prova,
sendo irreversível diante da falta de comprovação de autoria", prossegue o
texto da sentença. “E de outra sorte, de que adiantaria levar os equipamentos,
se o trabalho poderia ser refeito? Se o roubo teria ocorrido por conta de uma
reportagem envolvendo obras não feitas ou inacabadas, levar o equipamento não
impediria que tal fosse novamente feito”, pondera a magistrada como quem
minimiza poder intimidador da arma apontada e as dificuldades de se refazer a
reportagem depois disso e na falta de equipamentos e arquivos.
O
próprio Ministério Público pediu a absolvição dos réus e a sentença sugere
falta de interesse até das vítimas.
Em
busca do não esquecimento deste atentado contra jornalistas, duas coisas se
evitam neste texto: especular nomes de executores ou mandantes por mais óbvios
que sejam os interesses postos e cobrar condenações sem provas. Por outro lado,
a absolvição dos acusados até então, deixa livres impunes os reais autores e
mandantes do crime que, apesar de poucos se interessarem pelo esclarecimento,
ninguém consegue negar ou esconder que tenha de fato ocorrido.
No fim
de tudo a audácia de tentar empastelar a Rede Globo teve êxito, os operadores
da humilde mídia local "desaconselhados" do exercício do direito de fiscalizar a
gestão pública do nosso entorno e a liberdade de imprensa – essa garantia
inalienável – assaltada, desaparecida como a filmadora do Fantástico.
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