Rafael Souza - Colaboração para o
UOL, de São Luís
04/11/2021 19h27
Uma criança de dois anos de idade
morreu ontem, após contrair raiva durante o ataque de uma raposa, no povoado de
Santa Rita, município de Chapadinha, interior do Maranhão. O incidente ocorreu
em agosto e os médicos que o atenderam não aplicaram a vacina antirrábica no
garoto, procedimento padrão no início do tratamento para estes casos. Após uma
sucessão de idas e vindas ao hospital, Luís Samuel Almeida da Silva foi levado
para São Luís, já com sintomas avançados da doença, no dia 23 de setembro, onde
acabou falecendo.
Segundo o secretário de saúde de
Chapadinha, Richard Wilker, os médicos envolvidos foram afastados e estão sendo
investigados por possível negligência. O menino foi atendido no dia 4 de
agosto, por uma médica, com relato de arranhadura de gato e apenas foi feito o
curativo e a limpeza do ferimento. No segundo atendimento, no dia 19 de
setembro, no Hospital Municipal, um segundo médico lidou com um quadro de
desconforto respiratório, irritabilidade e enjoos do paciente, que recebeu
nebulização e antibiótico, medicação para dor e enjoo, antes de ser liberado
para voltar para casa.
"No dia 20, ele faz um novo
retorno ao hospital, na Unidade de Pronto Atendimento, com bastante
irritabilidade, agressivo, reações como se fosse morder. Uma situação aguda da
doença. E só então é encaminhada para o Hospital da Criança, em São Luís, com a
suspeita de raiva", disse o secretário. Luís Samuel ficou quatro dias
internado na unidade de saúde até ser encaminhado para o Hospital Materno
Infantil, onde passou cerca de um mês até falecer, na manhã de ontem.
Em um vídeo divulgado pela própria
Prefeitura de Chapadinha, no dia 15 de outubro, o secretário deu explicações
sobre o caso e falou como as equipes chegaram no consenso que se tratava de um
ataque por raposa, e não de gato. A constatação veio a partir de uma longa
investigação e da confirmação, no dia 6 de outubro, em laboratório, do vírus da
raiva e da presença de material genético de animal silvestre compatível.
"A criança estava sozinha em um cômodo. No interior do Maranhão, há a mania
de deixar a criança sentada, pra comer. Essa criança deve ter pegado o gato
que, pra se soltar, acabou arranhando ele. Pode ter contaminação [pela raiva]
por arranhadura, pode. Mas é raro.
É muito mais comum pela saliva",
afirma. Ainda no vídeo, o diretor da Vigilância Sanitária, Rubiel Perez,
continua explicando a investigação e diz que, no mesmo dia em que a criança foi
arranhada pelo gato, uma raposa apareceu na casa. "Os familiares dizem que
uma raposa apareceu encostando na parede e não fugia com a presença humana.
Eles tentaram afugentar, mas também não correu. Então um cachorro atacou a
raposa. Eles brigaram e a raposa morreu. (...) Então, ou a raposa mordeu o
menino e ninguém viu, seria um ataque direto, ou foi uma infecção indireta
através da saliva que estava corpo no cachorro.
Na região de Chapadinha, o governo do
Maranhão fez uma força-tarefa para investigar cães e gatos que possam ter
contraído a doença. A população do povoado de Santa Rita Chapadinha, na zona
rural, e toda a família de Luís também receberam a vacina antirrábica, por
precaução. Em nota, a prefeitura lamentou a morte de Luís Samuel e afirmou que
se solidariza com a família.
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