quinta-feira, 27 de julho de 2023

Depois do Orçamento Secreto, Agora Temos as “Emendas Pix”


 

As “emendas Pix”, uma forma de transferência de emendas individuais, foram criadas em 2019 para acelerar o repasse a estados e municípios. Diferentemente das demais modalidades, o dinheiro é repassado diretamente dos cofres da União, sem a necessidade de um projeto específico. Por lei, devem apenas respeitar a destinação de ao menos 70% para investimentos, excluindo despesa com pessoal e pagamento de dívida.

Para especialistas ouvidos pelo jornal O GLOBO, a falta de vinculação a um projeto dificulta a fiscalização e o controle de como os valores estão sendo aplicados. No começo de julho, o governo liberou R$ 5,2 bilhões do previsto pela modalidade para acelerar a votação de projetos como o Reforma Tributária.

— As operações especiais (como as “emendas Pix”) nasceram para fazer ajustes residuais — explica Emerson Cervi, professor de Ciência Política da UFPR. — Representa a materialização do encurtamento do caminho do Parlamento aos redutos eleitorais e é uma alternativa para atender às demandas dos parlamentares com o fim do orçamento secreto.

Desde 2020, cresceu o interesse de parlamentares nas “emendas Pix”, e há casos em que a destinação atendeu municípios em que exercem influência direta. Aparecem na lista parlamentares como o ex-deputado federal Édio Lopes (PL-RR), que engordou os cofres da prefeitura de Mucajaí, comandada pela esposa, Eronildes Gonçalves (PL).

Há ainda aliados do governo Lula, como o senador Davi Alcolumbre (União-AP), que enviou R$ 29,5 milhões ao governo do Amapá nesta modalidade. Alcolumbre apoiou a eleição do atual governador, Clécio Luís (Solidariedade), também aliado do líder do governo Lula no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP) – que destinou à gestão estadual R$ 27,2 milhões nesta modalidade.

Especialistas apontam que a falta de transparência pode levar à perda de controle sobre como os recursos estão sendo aplicados por prefeituras e governos estaduais. Nessa linha, afirmam que dá margem para irregularidades em licitações e esquemas de corrupção. Marina Atoji, conselheira da Transparência Brasil, ressalta que há falta de estrutura e politização de órgãos fiscalizadores que poderiam coibir uso indevido do dinheiro, como os tribunais de contas:

— Em muitos casos, governadores e prefeitos nomeiam aliados para conselheiros de tribunais de contas estaduais e municipais. (O Globo).

 


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