quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Impeachment Tem Regra e Ditadura Não É Brinquedo


Votei na presidenta Dilma por três motivos principais presentes em sua primeira gestão, na exata ordem: distribuição de renda e valorização das camadas mais pobres; inclusão de regiões esquecidas como o nordeste na estratégia de desenvolvimento nacional; e contraponto à onda de intolerância e fundamentalismo comportamental.

Logo nos primeiros lances vejo concessões ao mercado financeiro, fraqueza do governo e guinada a direita. Posso dizer que sinto dificuldade em me sentir representado por quem ajudei a eleger. Mesmo assim há mais em jogo do que garantir um governo que agora só é esquerda no papel e tanto se afastou do povo.

Entre o revanchismo irracional dos derrotados de outubro e o pragmatismo astucioso dos eternos golpistas de plantão, nossa democracia fundamentada na Constituição de 88 e conquista de várias gerações, corre risco.

Verdadeira e pertinente a insatisfação contra o governo federal, nem precisava tanto para criar expectativa de volumosos os protestos marcados para o mês de março, basta a divisão nacional patente nos votos dados ao candidato tucano. Se legítimas as manifestações, o mesmo não se pode dizer da pretensão de afastar a presidenta. Só é possível falar em Impeachment mediante crime de responsabilidade, o que nem de longe materialmente se observa.  Se alguma prova de participação e beneficiamento direto surgir contra Dilma, serei o primeiro a defender sua saída, ainda que lamentando a ascensão do vice, Michel Tamer. (Muitos desavisados pensam que Aécio assumiria a presidência)

Impedimento de Presidente da República tem regras definidas e propor a destituição de Dilma sem o devido processo não é outra coisa senão GOLPE!

Não me admira que o submundo da intolerância latente em nossa sociedade vocifere por intervenção militar, retorno de ditadura, execução de esquerdistas e outras loucuras. Estranho é a presença, entre eles, de personalidades que combateram o último período de exceção e a sedução de biografias ditas democráticas pelos chocalhos da tirania.  

Nossa democracia é jovem, a história tem pendor golpista e todo cuidado é pouco, pois qualquer brincadeira pode ensaiar “o cântico lúgubre das liberdades perdidas”, como alertou Mário Covas, dias antes da edição do AI5, em 1968. 

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