quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A Crítica, o Ar que Respiramos e a Liberdade

Ainda a respeito do texto “A Crise do Governo e o Jornalismo Martelo”, lembrei de um tempo triste e de uma das diferenças do “modus operandi” dos antigos para os atuais detentores do poder no trato das críticas da imprensa e dos movimentos sociais.

Na época em que Isaías e família estavam na prefeitura a imprensa ainda engatinhava tínhamos apenas o Rádio Denuncia (Mirante AM) comandado por Jota Coutinho. Crítico contundente do governo, Coutinho sofreu diversas ameaças reais dos poderosos.

Outro que desafiava o poder nos movimentos sociais era o militante petista Chico da Cohab. Combativo nos sindicatos, igrejas e conselho de saúde Chico protagonizou um episódio absurdo: teve um delegado de polícia nomeado por indicação do chefe político local andando atrás dele para prendê-lo por suposto crime contra a honra do prefeito, por haver encenado, na Igreja Matriz, uma peça teatral em que alguém imitava caricatamente o gestor. Em plena vigência da Constituição de 88, alguém ser mandado pra cadeia por expressar seu pensamento dá a noção do desprezo que a autoridade maior tinha (e me reservo o direito de considerar que ainda tem) pela democracia.

Nem só de coação viviam eles. Padre Neves, durante o clímax de um movimento que pedia uma CPI, só não pegou um soco do filho do prefeito porque o vidro do carro estava fechado. A mesma sorte, tempo depois, não teve o Advogado Djunior, agredido covardemente em praça pública pelo mesmo autor da tentativa contra o Padre. Eram tamanhos os desmandos que nem mesmo os parentes do ex-prefeito que se afoitavam em criticá-lo escapavam. Fato presenciado por mim, em 1990, em frente à escola Raimundo Araújo, quando ali transcorriam as apurações, o ex-gestor de educação e sobrinho de Isaías, Ormane Fortes, foi atacado a pauladas por um cunhado de seu tio.

Fosse citar todos os casos de intolerância de então que tenho na memória, este artigo teria mais páginas que a Bíblia.

Avançamos a tal ponto que hoje até setores da imprensa aliados do governo criticam os gestores sem retaliações (até agora, e espero que continue assim) como sinal de maturidade institucional, e como mostra de avanço civilizatório até os excessos por parte dos opositores menos responsáveis são cobrados na justiça.

Escrevi este texto porque os mais moços e os que aqui chegaram depois precisam saber a diferença entre um grupo e outro, tão parecidos no descuido de suas próprias imagens públicas, mas tão distintos no respeito àquela coisinha tão essencial quanto água, comida e o ar que respiramos... chamada LIBERDADE.

Um comentário:

Herbert Lago Castelo Branco disse...

BATENDO O MARTELO POR UMA CRÍTICA SEM RODEIOS.

Quem fez jornalismos durante a ditadura militar sabe o que é controle da imprensa. Mas ninguém precisa ter vivido aqueles tempos para saber o que significa essa mordaça.
A imprensa muitas vezes toma partido político e também erra, mas é bom deixar claro que já existe no Brasil uma legislação que pune veículos e jornalistas que cometem erros ou excessos. Até penas de prisão estão previstas. As indenizações por danos morais podem ser milionárias. Ou seja, quem quiser caluniar ou difamar, que se prepare para as consequência. O que não pode haver é o controle do conteúdo dos meios de comunicação pelo poder público, muito menos a censura prévia, seja ela imposta pelo Executivo ou pelo Judiciário. Regular conteúdo significa impor obrigações de conteúdo.
Não há mais como controlar quem exerce a atividade jornalistica. Hoje, qualquer um pode criar um blog e publicar artigos, opiniões, ou sair falando o que bem quiser de todo mundo, inclusive em campanhas políticas.
O debate é bem vindo, não a imposição de verdades. Sou a favor da crítica sem rodeios.