O sociólogo Émile Durkheim produziu vasto material sobre criminalidade e suicídio. Tanto num caso de como outro são tidos por ele como fatos sociais que devem ser tratados como objetos específicos. Durkheim forneceu uma definição do normal e do patológico socialmente falando, atribuindo dados estatísticos para se chegar a tal conclusão. Com efeito, o pensador considera que nenhuma sociedade está imune ao crime e ao suicídio, ponderando, dentro de um limite estatístico, tais ocorrências como fenômenos naturais. Já o ultrapassar de tais limites denota grave enfermidade coletiva.
Tratando apenas dos casos noticiados de suicídio em Chapadinha, podemos ver que ao que parecem – e aqui cabe uma boa base de pesquisa científica para comprovar o crescimento – eles têm se multiplicado. O suicídio tem fatores claramente individuais atos cuja sociedade não tem nenhuma responsabilidade, porém, há suicídios que podem ser explicados por fatores sociais.
Mas, a propósito do título do post, o que a mídia tem a ver com isso? Na verdade é muito mais um questionamento que me proponho a fazer, uma reflexão para o debate.
Podendo configurar problema coletivo o suicídio merece (e até exige, diria!) divulgação de forma genérica, ouvindo especialista e questionando autoridades, mas sem esmiuçar detalhes de caso particular.
Pelo que tenho visto muitos destes casos de suicídio tem um roteiro clássico, seja individual: caso de relacionamentos rompidos ou mal resolvidos; seja em considerável pressão de regras sociais ou preconceitos e até falta de perspectiva de vida ou problemas financeiros. O suicida sempre deseja chamar atenção para sua angustia ou traz a intenção de punir os “responsáveis” por seus martírios. A divulgação detalhada pode estimular casos futuros na certeza do constrangimento dos supostos culpados ou inspiradores dos que tiram a própria vida.
Acho que a divulgação de minúcias de cada caso talvez possa alimentar tais extremados e definitivos gestos. Existe de fato um profundo dilema ético não pacificado na doutrina jornalística. Tanto que há locais em que a imprensa evita até tratar da palavra suicídio, preferindo, quando preciso for, noticiar apenas a morte de alguém e abordar o suicídio somente em caso de extremo interesse público.
Como disse, não trago verdade absoluta, sei que talvez esteja errado, mas quem valoriza a vida não pode deixar de levantar um tema que possa evitar futuras mortes. Pensemos nisso.
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