segunda-feira, 18 de abril de 2011

BRASIL: Descoberto, Achado ou Invadido?

Por: Almir Moreira - Advogado


O dia 22 de abril é o dia do achamento do Brasil. Só não foi o dia do povo gentio. A terra em que se plantando tudo dá, de mulheres de bela formosura e de gente a mostrar suas vergonhas era de grande inocência, segundo o escriba de Cabral, Pero Vaz de Caminha. O missivista da Corte Portuguesa se impressionou com a Ilha de Vera Cruz, gente inocente, formosa, terra rica e de mulheres de deixar qualquer um tonto. Coitado não sabia que logo, logo, morreria lá pelas bandas de Calicute. Imagino o pobre do Caminha lá nas Índias a se lembrar das lindas praias e das formosas mulheres. Os tais índios inocentes não imaginavam nem de longe o que aquela gente barbuda e bem adornada lhes estava reservando. Por trás de bugigangas como espelhos, anzóis, machados e outros da espécie, viria aculturação, escravidão e dizimação. 

Mas a história seguiu em frente essa gente toda se misturou e pariu esta gente nova o povo brasileiro. Somos resultado dessa unidade forjada a ferro e fogo. Autoritarismo, paternalismo e submissão é a marca cultural impregnada no nosso consciente coletivo. Passamos mais de 200 anos organizados como uma grande fazenda de produção açúcar; só com a descoberta do ouro e a vinda da família real mudamos essa página inicial da história, alguns até dizem que a partir dessa data a metrópole virou colônia e a colônia virou metrópole. Depois nos apartamos da matriz, mas fizemos isso de forma negociada, tanto que adotamos a monarquia como regime de governo. Veio a república feita por cima, melhor, dentro dos quartéis, e tudo que sucedeu até esta data – revolução de 30, estado novo, redemocratização 1945 e o golpe de 1964 - respeitou essa lógica perversa. O autoritarismo marca o modo de condução da política. Recentemente, por força do fortalecimento das lutas populares e do recrudescimento da economia brasileira, mais urbana e mais aglutinadora de mão de obra especializada, aliado ao processo de globalização da economia ingressamos numa nova etapa. O processo de redemocratização ocorreu nessa conjuntura, e embora negociado dessa vez rompeu com as experiências antigas e elegeu a democracia como forma de governo fundamental. Ganharam todos, mas ganharam mais os setores outrora alijados. 

O modo como a nação e o Estado se constituíram sugere que só o tempo, claro, aliado a participação popular pode gerar uma sociedade mais justa e fraterna. O tempo como quantidade mesmo, como idéia de uma construção lenta e gradativa. A nossa grande e mais valiosa conquista é a democracia, ainda que tenha este regime suas dificuldades é nele o melhor terreno para a luta social e política. Por isso nunca é tarde cantar como já cantado: “liberdade!, liberdade! abre as asas sobre nós e que a voz da igualdade, seja sempre a nossa voz.”

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