Por: Almir Moreira – Advogado
Na mídia local noticia sobre a
prisão e morte no confronto entre policia e suposta quadrilha de criminosos na
espreita para agir ou estava agindo na cidade, não sei de maiores detalhes. Sei
da morte de um suposto criminoso e na prisão de comparsas seu. Até aí a lógica
funcional, polícia é para prevenir e coibir é instrumento legal de coerção do
Estado, conceito aceito desde que o Estado é Estado.
Contudo,
chama a atenção o festejo de alguns pelo ocorrido, sobretudo pela morte de um
dos quadrilheiros. Parece espírito de guerra. A polícia é parabenizada e o
desfecho morte é exaltado. A polícia cumpriu seu papel, fez sua obrigação –
agir na prevenção e coerção –, o faz, pelo menos aqui, dentro das condições
estruturais a sua disposição com eficácia e respeito à lei. Portanto, nada de
espetacular, normal. A morte, nos termos do festejo, revela sentimento de
vindita, de conquista, de desprezo...
A
violência urbana, fenômeno que não é só brasileiro, atormenta a vida de muitos
desde muito tempo, entre nós praticamente reduzida aos grandes centros urbanos
aos poucos, ou aos muitos vai se espraiando. É fruto da enorme contradição da
opção de modelo econômico e social estabelecido desde a colônia até hoje, claro
reservado as mudanças econômicas inseridas no próprio sistema. Este modelo
recebe apoio, inclusive dos que mais instrução tem e geralmente dos
festejadores de fatos como o tratado aqui. De norte a sul de leste a oeste o
Brasil se constituiu de forma desigual, exclusivo, autoritário e demagógico.
Somente com o advento da redemocratização, ainda um pingo d’ água nessa
história de 500 anos, demos os primeiros passos para romper com essa barreira,
e o governo petista, apesar dos percalços, é o grande motor desta mudança.
Ninguém
nasce com o selo de bandido, no geral são as condições de vida social – aqui
abrange relações sociais e econômicas, falta do Estado na execução de políticas
de inclusão e de socialização da renda - as
responsáveis pelo embrutecimento de muitos. São os apelos do capitalismo
moderno, concentrador de renda, consumista ao extremo e a libertinagem de parte
execrável da mídia partes desta mesma engrenagem co-responsavéis por essa
violência.
O
humanismo produto da melhor tradição da Grécia antiga incorporado à nossa
consciência coletiva e materializado nas nossas leis não pode sucumbir ao
pensamento formal, analítico dos fenômenos sociais em si mesmo separados do
contexto do qual estão inseridos. E se o apelo por uma análise deste fenômeno
da violência dentro dos aspectos do humanismo e do avanço das ciências sociais
não bastarem para alguns, pelo menos não nos esqueçamos, dentro de nossa
tradição religiosa a vingança não é permitida e o amor ao próximo é a base de
sua estruturação.
Nossa
luta não é por mais polícia, nossa luta é para criar condições para que cada
vez mais não precisemos dela para resolver questões que a todos nós, através do
Estado, compete resolver: vida humana para quem vive em vida desumana.
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