terça-feira, 12 de outubro de 2010

Deus, Aborto, Voto e Hipocrisia


Por: Robert Lobato

A campanha presidencial tomou um rumo esquisito e ao mesmo tempo perigoso neste segundo turno.

O tema “religião” surge como conteúdo de discussão e debate acirrados, só faltando um dos candidatos aparecerem num confessionário diante de um padre para declarar os seus pecados.

A questão de fundo tem a ver com a posição de Dilma e de Serra em relação ao aborto. Como sempre, diga-se de passagem, um debate dominado pela hipocrisia, pois não se trata de ser contra ou a favor, mas reconhecer que isso é uma prática corriqueira no país, seja nos confins do interior do nordeste, seja nos grandes centros urbanos do sul e sudeste.

Aos políticos, sobretudo os que disputam neste momento o mais alto posto político do Brasil, cabem tratar a questão como algo de saúde pública, pois centenas de mulheres morrem todos os anos por causa dessa prática, uma vez que não possuem garantias do Estado sequer para serem informados sobre os riscos de um aborto.

Penso que nenhuma brasileira sai por aí engravidando para depois simplesmente interromper de forma violenta a sua gravidez. Muitos que defendem a vida como “valor cristão”, e por isso se dizem contra o aborto, são os mesmos que negam o direito à vida digna para jovens pobres mulheres vítimas de abusos sexuais, por exemplo.

O estudo “Magnitude do Aborto no Brasil”, da ONG Ipas Brasil, aponta que a cada três crianças nascidas vivas no país, existe um aborto induzido. Afirma ainda que as regiões que mais sofrem com o problema são o Norte e o Nordeste.

De acordo com o Ipas, de 2000 a 2004, ocorreram 697 mortes em conseqüência de gravidez que termina em aborto, principalmente de mulheres com idade entre 20 e 29 anos (323 óbitos no período).

Nesse sentido, afirmar que é contra o aborto é fácil, difícil mesmo é enfrentar a realidade das estatísticas sobre essa questão no Brasil, onde quem leva a pior é sempre a mulher das classes menos favorecidas deste país.

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