"Pegue um playboy mimado, uma dondoca
autoritária e um político ultrapassado e ponha-os no caldeirão do poder: eis a
fórmula perfeita para um governo instável e explosivo. Essa bomba caseira
começou a ser detonada durante a eleição para a mesa diretora da Câmara
Municipal.
O que seria a
coroação de uma vitória brilhante nas urnas acabou se transformando num
espetáculo grotesco, patético, com direito a gritos histéricos, murros na mesa,
ameaças veladas e abraços furtivos entre antigos desafetos. A oposição,
claro, deitou e rolou na sopa. E tinha razão para comemorar: além de
enrolar o playboy, ainda ganhou um importante trunfo no jogo político.
Toda essa pantomima
poderia ter sido evitada se a maturidade não tivesse cedido lugar ao
imediatismo; se o fisiologismo não prevalecesse sobre o interesse público e se
a truculência dos Meneses fosse substituída pelo diálogo. Infelizmente não foi
assim. Em lugar de acordo, preferiram o escândalo. Para isso, não hesitaram em
atropelar aliados e jogar flores para os inimigos, excluindo qualquer
possibilidade de negociação amigável entre vereadores, prefeita e lideranças.
Mas sejamos francos:
exigir equilíbrio de quem tem o hábito de resolver conflitos a socos e pontapés
não parece algo plausível. O mais fácil para pessoas desse tipo é plantar
mexericos e semear discórdia. É tentar boicotar um governo que mal começou pelo
simples fato de se considerarem “donos dos votos”. É querer aplicar as mesmas
práticas administrativas do governo anterior (refiro-me aqui ao inchaço da
máquina pública) com vistas à eleição para deputado.
Tudo isso me faz
lembrar Tocqueville, quando diz: “A verdade é que a vaidade dos homens pode dar
os espetáculos mais diversos, sem mudar de natureza: ela tem um verso e
reverso, mas é sempre a mesma medalha”. O autor se refere ao intenso conflito
entre bonapartistas, socialistas e republicanos logo após a Revolução de 1848
na França, durante a chamada República Social.
No nosso caso, tudo
aparentemente não passou de mera disputa de cargos, marcada pelo arroubo
infantil de um parlamentar vaidoso. Mas quem tem um faro mais apurado
certamente sentiu ali o cheiro de um futuro golpe friamente planejado. Isso,
porém, só a história irá confirmar. Será que a prefeita também já percebeu que
os canibais estão na sala de jantar? Se a resposta for sim, o melhor seria
adotar a velha e eficiente tática de sobrevivência: um olho no peixe, outro no
gato."
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