Líder Manoel Santana sob a proteção da Força Nacional de Segurança |
O quilombo Charco fica localizado no município de São João Batista, no norte do Maranhão. São 1.400 mil hectares ocupados por 71 famílias de quilombolas, descendentes de antigos escravos que viveram na região.
No local, as pessoas vivem com medo. A lavradora Maria Ivanildes Campos mora com os três filhos num casebre de palha e teme ações de pistoleiros. “Eu tenho medo de morrer. Perder minha vida, porque minha vida é uma só”.
O dia-a-dia na roça também virou um tormento. A lavradora Maria do Rosário Santos agora trabalha assustada na lavoura de mandioca. “Fico assim com medo deles virem e matar a gente porque já mataram um companheiro que estava aqui com a gente.”
Clima é tão tenso no quilombo, que muitos estão abandonando as terras. Foi o caso da família que morava em uma das casas do local.
O casebre está fechado, assim como vários outros na vizinhança. “Ficaram com medo de ficar sozinhos. Ficaram com medo e saíram”, conta o lavrador Davi Vicente Meneses.
O medo dos quilombolas tem motivo. Em outubro do ano passado, o líder deles, Flaviano Pinto Neto, foi morto em uma emboscada. O fazendeiro Manoel Gentil Gomes, que reivindica a posse da área, foi apontado no inquérito policial como mandante do crime. Ele foi preso, conseguiu um salvo conduto e aguarda o processo em liberdade.
Hoje, o novo líder dos quilombolas, Manoel Santana, vive sob escolta para não morrer assassinado. Ele ocupa o topo da lista com 27 pessoas juradas de morte no Maranhão, segundo a Pastoral da Terra. Para proteger a vida dele, a Força Nacional de Segurança Pública foi acionada. Policiais de elite de vários estados e corporações, sob o comando do Ministério da Justiça, foram deslocados para o assentamento.
“Ando 24 horas aos cuidados da Força Nacional. (...) Minha ida e vinda é garantida por eles”, afirma o líder quilombola, Manoel Santana.
Segundo a Pastoral da Terra, no ano passado, no Maranhão, foram assassinados quatro camponeses, vítimas de conflitos de terras.
A antropóloga do Incra, Lidiane Amorim, é quem coordena o setor de regularização de quilombos do Incra, no Maranhão. Ela falou sobre a situação da comunidade.
“Infelizmente a situação de Charco é um retrato de todos os quilombos no Maranhão e no Brasil. O Incra é uma instituição que tem um contingente de técnicos muito pequeno. No Maranhão temos 266 processos abertos e só temos 14 relatórios publicados. Então você vê a questão da questão quilombola e o tratamento que está tendo pelo governo. Poderia te citar várias situações comunidades que estão na mesma situação, são mais de cem, e estão na mesma urgência da comunidade de Charco, e não tem estrutura para atender, não tem estrutura operacional. Então o problema não é questão do recurso é a estrutura da instituição, que não está adequada para atender essa política com qualidade e eficiência que ela merece ter”.
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