quarta-feira, 1 de junho de 2011

Jesus Criado por Ateu, Vendido à Coca e Agora Light


Perto de completar 100 anos de inventado pelo farmacêutico ateu Jesus Norberto Gomes, o refrigerante cor-de-rosa Guaraná Jesus que nem a Coca-cola topou a concorrência no Maranhão e comprou a fórmula, agora prepara mais uma evolução na versão “Zero Caloria” com direito a lançamento solene amanhã. 

Li essa notícia no site Maranhão Maravilha e lembrei de uma reportagem antiga da Revista Piauí que revelava facetas incríveis dessa figura impar que foi Jesus Norberto. 

“Norberto Gomes tinha o hábito de batizar suas invenções com homenagens a si próprio, como atestam o Antigripal Jesus, o Xarope Peitoral Jesus e a Jesulina Pasta Dentifrícia. (...) Enquanto a Jesulina Pasta Dentifrícia, o Antigripal Jesus e o Xarope Peitoral Jesus entraram para o triste rol dos bens que não fizeram história na conturbada história do capitalismo brasileiro, o guaraná foi um sucesso retumbante” revelou a revista.

“Quanto à aquisição do “sonho cor-de-rosa” maranhense pela multinacional Coca-cola, " trata-se de uma estratégia da companhia comprar o produto líder de mercado numa região", explica a representante da empresa no Maranhão, Raquel Macedo. E haja liderança: embora sem revelar os números, ela diz que o Jesus empata em vendas com a Coca.

O refrigerante é todo feito à base de extratos vegetais, informa Fábio Gomes, neto do inventor. Até o corante é natural. O avô Jesus, um pioneiro, trazia as ervas das expedições que fazia à Amazônia. "Antes de todo mundo começar a falar em biodiversidade, ele já achava que o grande tesouro farmacológico do mundo estava na selva amazônica", conta. Nas relações trabalhistas, Jesus também era um inovador. "Quando ninguém falava em participação dos funcionários, meu avô dava participação nos lucros da farmácia", orgulha-se o neto.

Por essas e outras, surgiram boatos de que Jesus Norberto Gomes era comunista. Em novembro de 1935, em decorrência da Intentona Comunista, oitenta cidadãos tiveram sua prisão decretada pelo governador Aquiles Lisboa. Jesus estava entre eles. O grupo foi transferido para o Rio de Janeiro, onde ficou até o ano seguinte. Fábio Gomes guarda ainda uma cópia da carta-testamento que o avô escreveu em 1958, cinco anos antes de morrer. 

Jesus pedia um funeral modesto e determinava que a diferença entre os custos das exéquias baratas e mais pomposas fosse doada ao Partido Comunista. Ele justificava: "Não fui e não sou socialista, infelizmente, porque seria um idealista. Como pequeno-burguês tenho defeitos, mas sou admirador sincero desse regime verdadeiramente humano, onde pode ser obtida a verdadeira democracia".

A reportagem da Piauí é extensa e ainda conta como o neto de Jesus Gomes virou cineasta de um romance de José Sarney, que por sua vez tornou-se cinéfilo por conta da relação com Fábio Gomes. Leia a matéria completa aqui. Recomendo.  


Um comentário:

adriana disse...

Excelente post, Alexandre.
História da nossa gente - interessante e reveladora.
Parabéns!