Início
da tarde de segunda-feira (3/12) passada em Nova York. Na estação de metrô da
Rua 47 com a Sétima Avenida, um morador de rua arruma encrenca com um
desconhecido na plataforma da linha Q. Cena urbana corriqueira num sistema de
transporte utilizado diariamente por 5,2 milhões de usuários. Após uma
altercação rápida, o encrenqueiro empurra o senhor de 58 anos para o fosso de
trilhos da estação. Na plataforma, alguns passageiros gritam, outros agitam os
braços ou ouvirem o apito do trem. Mas o condutor já nada pode fazer. A vítima
também não – restou-lhe a eternidade de quinze segundos para ver o vagão de
frente.
No
dia seguinte, o tabloide New York Post estampou uma foto (acima) de página
inteira que mostra o trem adentrando a estação com seus dois faróis a iluminar
a tragédia anunciada. No fosso, vê-se a vítima de costas voltada para o vagão,
a tentar erguer-se para a plataforma. Os últimos poucos metros ainda os
separam. Sobre a imagem, um título em letras garrafais: “CONDENADO – empurrado
sobre os trilhos, este homem vai morrer”.
A
partir daí o morto foi esquecido, tragado por outra polêmica: é dever do
fotógrafo – profissional ou amador – intervir quando uma tragédia se apresenta
à sua frente? É jornalismo ou voyeurismo induzido publicar uma imagem de morte
iminente, de impacto previsível sobre a emoção e a imaginação do leitor?
Texto de Dorrit Harazim, para o
Observatório da Imprensa. Continue Lendo (Aqui).
Nenhum comentário:
Postar um comentário