Reproduzo abaixo matéria do Gilberto Leda/William
Fernandes sobre a cassação do prefeito de Buriti. Primeiro se narra o fato que
culminou com decisão judicial e depois uma rara opinião sobre os hábitos políticos
do estado e região partindo de um magistrado que não economiza nas críticas. O
texto é um pouco mais longo que o comum em blogs, mas vale a pena a leitura.
A Notícia
O juiz Mário Henrique Mesquita Reis, substituto
na 25ª Zona Eleitoral, determinou no fim da semana passada, a cassação do
prefeito de Buriti de Inácia Vaz, Rafael Brasil e do seu vice, Raimundo Camilo,
ambos do PRB, por formação de “caixa dois” na eleição de 2012, e a posse
imediata do segundo colocado na disputa, Lourinaldo Silva (PRP) – o que não
deve ocorrer, já que a jurisprudência do TSE aponta que prefeito recorre no
cargo.
Rafael Brasil e seu vice foram
acusados pelos adversários de haver usado, sem contabilizar na prestação de
contas, um ultraleve para distribuir panfletos com pesquisa às vésperas do
pleito, ônibus escolares para transportar eleitores e ônibus alugados de uma
empresa de São Luís.
“Julgo procedente o pedido [...] para
reconhecer a utilização indevida de recursos não contabilizados na prestação de
contas dos candidatos eleitos Rafael Mesquita Brasil e Raimundo Nonato Mendes
Cardoso, cassando, por consequência, os seus diplomas, [...]declarando-os ainda
inelegíveis pelo prazo de 08 (oito) anos subsequentes à eleição de 2012. [...]
Determino a diplomação do segundo colocado, [...] Lourinaldo Batista da Silva e
seu respectivo vice”, despachou o magistrado.
A Opinião
Apesar da cassação, não é o mérito da
ação o que mais chama a atenção no despacho do juiz Mário Mesquita Reis.
Indignado com a possibilidade de
realização de uma manifestação no município por suposto atraso da sentença, o
magistrado incluiu no despacho uma série de considerações sobre a política
maranhense. E, mesmo dando decisão favorável ao grupo que planejava “cortar” a
rodovia MA-034, que passa pela cidade, não poupou críticas à oposição local.
“Os asseclas, em vez de reclamarem,
deviam buscar ler os planos de governo, eleger melhores representantes e não
dependerem da estrutura do governo, que não existe para ser pai de ninguém!”,
asseverou.
Leia abaixo a íntegra do artigo que o
juiz incluiu no despacho.
________________________
Na
tarde da quarta-feira (06.11.2013), recebi mensagem de Buriti anunciando uma
possível interrupção da rodovia estadual por conta do atraso desta sentença,
cujos autos vieram conclusos em 22 de outubro de 2013.
Sentença
não é fruto de mera subsunção desprovida de análise – o que até facilitaria o
trabalho dos juízes. É, na verdade, um árduo trabalho de analisar os fatos e
provas e amoldá-los ao que prevê nossa legislação. Não é trabalho que se extrai
da cabeça de um julgador da noite para o dia, notadamente quando este juiz possui
mais de 3.000 (três mil) processos fervilhando em sua cabeça.
Trabalho
exaustivamente em uma Comarca (Chapadinha/MA) que possui a distribuição cerca
de 10 (dez) vezes maior que a de Buriti/MA. Só isso já justificaria certa
delonga, mas em nenhum momento utilizei este argumento. Estou aqui para
contribuir, mas parece que a sociedade interessada faz pouco caso da ajuda.
Absurdo!
Não
questiono a pressa que os feitos eleitorais devam ter. Assevero, contudo, que a
maledicência de alguns, aliada a interesses mesquinhos de balbúrdia,
tencionando claramente desestabilizar a pacata comunidade de Buriti, cria um
clima de desrespeito e bagunça. Se acharem que agindo assim irão me intimidar,
estão enganados!
Os
asseclas, em vez de reclamarem, deviam buscar ler os planos de governo, eleger
melhores representantes e não dependerem da estrutura do governo, que não
existe para ser pai de ninguém!
Estranhamente,
o processo teve um retardo que não se iniciou em minhas mãos, mas as pressões
começaram a recair sobre minha condução dos feitos. Mais estranho ainda é a
ignorância daqueles que apontam o dedo, sem sequer se atentar aos prazos
processuais. É senhores, no nosso país existem leis eleitorais que estabelecem
prazos a serem respeitados!
A
propósito, aqui lançando um juízo pessoal acerca da política brasileira,
independentemente de quem ocupar a cadeira de prefeito neste Município de
Buriti/MA, não cessará a contenda político-partidária. A questão é cultural! O
problema não está só nos políticos, está também em nosso povo! O mesmo povo que
se arregimenta para defender os interesses de seu candidato é o mesmo vende sua
consciência, vende sua dignidade, enfim, vende sua própria escolha. As eleições
que presidi ou mesmo trabalhei como advogado ou à serviço da Justiça Eleitoral
me autorizam essa conclusão.
Infelizmente,
vivemos em um país onde a população, em sua grande maioria, não é politizada.
Arrisco dizer que a massa social, é escravizada mental e socialmente por
políticas atrasadas, mascaradas de assistencialismo. Na atual conjuntura, se um
candidato à presidência disser que vai acabar com o “bolsa-família” , por
exemplo, este certamente será o maior derrotado nas urnas. Este benefício,
aliás, alcança pessoas que se aproveitam de métodos sub-reptícios para
utilizá-lo como fomentador de ócio, incentivador à natalidade e, a longo prazo,
gerando aumento da criminalidade pela falta de compromisso de pais e da
falência do sistema de governo.
Nos
municípios maranhenses, com exceção das grandes cidades e da Capital, o dinheiro
que circula é oriundo exclusivamente da prefeitura. Quando um(a) prefeito(a)
atrasa a remuneração gera um verdadeiro caos no comércio; os recursos não
circulam. E quem presta concurso público vira príncipe, rendendo homenagens
apenas ao soberano, intitulado prefeito(a).
A
oposição, que lembra os tempos da resistência armada, pouco esclarecida,
espera, de forma ensandecida, que o poder seja destinado ao seu escolhido. Mas
o que realmente deseja é ter a mesma vida de quem se guerreia.
Em
muitos municípios maranhenses, a conclusão dos eleitores esclarecidos é que as
eleições municipais são verdadeiras guerras, porquanto representam a chance de
um grupo se firmar, ainda que por quatro anos, e usufruir das benesses e
tranquilizar um grupo que o apoiou nas eleições. Não é raro ouvir nas ruas que
um eleitor terá um cargo na prefeitura, caso seu candidato vença.
Por
isso, tenho a firme convicção de que aqueles que imaginam a derrocada de um
candidato são na verdade pessoas que tem o mesmo propósito de atingir os
objetivos outrora alcançados pelos seus opositores. No Maranhão, verdade seja
dita, alguns políticos criam em sua órbita corporal uma aura, uma figura
mítica, do qual não sobram eleitores, mas sim seguidores.
Utópico
é algo que não existe, mas que não é impossível. É, no dizer do pensador
uruguaio Eduardo Galeano, um horizonte, em que quanto mais corremos para
alcançá-lo, mais ele se afasta. Desejo, honestamente, que nosso povo seja mais
educado, não só de valores e princípios – coisa que falta aos muitos que
insuflam os populares -, mas também tenha mais conhecimento e educação. A
intenção de tornar o Brasil uma Europa deve passar obrigatória pela reforma do
ensino, mas também agir e cobrar condutas éticas. É, como no mito da criação do
homem, de Platão, crer que o político tenha como base o aidos (decoro, pudor) e
o dike (justiça).
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