sábado, 10 de maio de 2014

Sobre as Mães


Por: Anaximandro Cavalcanti – Psicólogo  

Há muitos mundos no coração de uma mãe, nele não há limites de compreensão nem de amor. Sua vida é um oceano de afeto, delicadeza, carinho e infinita doação aos filhos; e ao mesmo tempo, lugar de intensas dificuldades e batalhas, travadas principalmente entre ela e suas filhas. Isso porque a mãe já se identifica com a filha desde a gravidez, que inconscientemente está associado a uma identificação materna – a mulher deseja ser mãe como sua mãe. Prova disso é a brincadeira preferida das meninas: "mãe e filha" Desejo primeiro e precoce de toda menina − ser mãe, como a própria mãe.

Mães e filhas pertencem ao mesmo gênero e à linhagem feminina da família. Os projetos da mãe para sua filha podem ter como característica a realização pela filha do que foi frustrante na vida da mãe. A mãe, não aceitando o que não foi possível em sua vida, passa o bastão a sua filha para que ela tenha quase que a obrigação de realizar planos de vida que pertencem à mãe. Nesse caso não há o reconhecimento da individualidade da filha, uma é quase que totalmente a extensão da outra, o que faz com que não haja a transformação de mãe-filha para mãe e filha. Exemplificando: qual adolescente nunca ouviu uma amiga ou um namorado, dizer que ela é exatamente igual a sua mãe? Geralmente, esse algo ela tinha certeza que era apenas seu, como um pensamento, um gesto característico, o jeito de andar, o tom da voz, etc. Isso é o que torna difícil a relação mãe e filha. 

Essa colagem de gerações, essa diferenciação precária entre uma mãe e uma filha, pode provocar inúmeras situações conflitivas ou, de uma maneira ainda mais nefasta, gerar uma situação na qual a mãe e a filha não conseguem se separar. Essas são situações extremas nas quais fica evidente o que em situações não tão intensas pode passar despercebido: a dificuldade na separação psíquica entre uma mãe e uma filha, a constituição da individualidade de cada uma. Essa individualidade nunca é total, mas é condição de realização de uma mulher que prima e sonha em ser mãe. 

Por outro lado, é fácil constatarmos que a relação da neta com a avó tende a ser mais fácil do que com a mãe, muito provavelmente devido a distância de uma geração para a outra, o risco de conflitos entre neta e avó é menor; justamente por isso a avó pode se entregar emocionalmente mais à neta e vice-versa. É uma relação na qual a agressividade da filha na direção da mãe, que tem a função de diferenciação, não é mais tão necessária, já que existe entre a neta e a avó a distância de uma geração.


Essa relação pode ser uma bem-vinda oportunidade para ambas realizarem um amor filial feminino, mais livre de conflitos. As avós tendem a ser mais generosas e tolerantes com suas netas, e as netas com as avós. Salvo exceções, é claro, há matriarcas que provocam um grande tumulto nas famílias.

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