Por: Anaximandro Cavalcanti –
Psicólogo
Há muitos mundos no coração de uma
mãe, nele não há limites de compreensão nem de amor. Sua vida é um oceano de
afeto, delicadeza, carinho e infinita doação aos filhos; e ao mesmo tempo,
lugar de intensas dificuldades e batalhas, travadas principalmente entre ela e
suas filhas. Isso porque a mãe já se identifica com a filha desde a gravidez,
que inconscientemente está associado a uma identificação materna – a mulher
deseja ser mãe como sua mãe. Prova disso é a brincadeira preferida das meninas:
"mãe e filha" Desejo primeiro e precoce de toda menina − ser mãe,
como a própria mãe.
Mães e filhas pertencem ao mesmo
gênero e à linhagem feminina da família. Os projetos da mãe para sua filha
podem ter como característica a realização pela filha do que foi frustrante na
vida da mãe. A mãe, não aceitando o que não foi possível em sua vida, passa o
bastão a sua filha para que ela tenha quase que a obrigação de realizar planos
de vida que pertencem à mãe. Nesse caso não há o reconhecimento da
individualidade da filha, uma é quase que totalmente a extensão da outra, o que
faz com que não haja a transformação de mãe-filha para mãe e filha.
Exemplificando: qual adolescente nunca ouviu uma amiga ou um namorado, dizer
que ela é exatamente igual a sua mãe? Geralmente, esse algo ela tinha certeza
que era apenas seu, como um pensamento, um gesto característico, o jeito de
andar, o tom da voz, etc. Isso é o que torna difícil a relação mãe e filha.
Essa colagem de gerações, essa
diferenciação precária entre uma mãe e uma filha, pode provocar inúmeras
situações conflitivas ou, de uma maneira ainda mais nefasta, gerar uma situação
na qual a mãe e a filha não conseguem se separar. Essas são situações extremas
nas quais fica evidente o que em situações não tão intensas pode passar
despercebido: a dificuldade na separação psíquica entre uma mãe e uma filha, a
constituição da individualidade de cada uma. Essa individualidade nunca é
total, mas é condição de realização de uma mulher que prima e sonha em ser mãe.
Por outro lado, é fácil constatarmos
que a relação da neta com a avó tende a ser mais fácil do que com a mãe, muito
provavelmente devido a distância de uma geração para a outra, o risco de
conflitos entre neta e avó é menor; justamente por isso a avó pode se entregar
emocionalmente mais à neta e vice-versa. É uma relação na qual a agressividade
da filha na direção da mãe, que tem a função de diferenciação, não é mais tão
necessária, já que existe entre a neta e a avó a distância de uma geração.
Essa relação pode ser uma bem-vinda
oportunidade para ambas realizarem um amor filial feminino, mais livre de
conflitos. As avós tendem a ser mais generosas e tolerantes com suas netas, e as netas com
as avós. Salvo exceções, é claro, há matriarcas que provocam um grande tumulto
nas famílias.
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