Todos são inocentes até que se prove o contrário e o mínimo que
se exige diante de uma grave acusação é que se busque ouvir a parte suspeita; eis
duas regras de ouro do jornalismo e do senso de justiça de cada um. Certo? Certo!
Mas nem sempre isso importa para quem recebe ou consome informação.
Aqui não vou falar de bons ou maus jornalistas porque uns e
outros sempre existirão. Sempre haverá quem cega ao defender uma causa a ponto
de prejulgar e condenar inocentes. E os pistoleiros da honra alheia, que
recebem para caluniar e destruir a moral dos outros não serão facilmente detidos.
Trato aqui de uma coisa mais assustadora que escribas
afoitos ou desonestos: a opinião pública, este monstro disforme que, com a
internet, acrescentou velocidade a seu vasto poder destrutivo. Novo fenômeno da
mídia, o facebook está virando rapidamente um tribunal implacável e irracional.
Para muitos leitores ou “faces” notícia correta é aquela que
satisfaz sua opinião ou reafirma conceitos e pré-conceitos consolidados.
Se temos, por exemplo, um sistema de saúde que beira o caos
de tão ruim, toda morte é sempre culpa do médico e a apuração dos fatos pouco
importa. Se o acusado de qualquer coisa, por qualquer blogueiro for o político
que detesto, ainda que o autor não apresente indício sequer, não tem como não
ser verdade o que ali for dito. Diante de uma injustificável violência contra
um jovem honesto e trabalhador se releva até a sanha de linchamento do
suspeito, ainda que se descubra – depois – não ser ele o assassino.
Mas todo grupo social tem seus totens e serem humanos acima
do bem e do mal. Estes, ungidos em estado perene de inocência, dada dificuldade
de acreditar que sejam falíveis, surgem para restabelecer a lógica.
Tivemos recentemente a mídia local (de Chapadinha) e as redes sociais
confrontadas com casos simbólicos: um médico execrado sem chance de defesa, a
prisão do “homicida” errado, e um pastor acusado de crime sem vítima, queixa ou
indício.
Passados alguns dias, os três casos se encontram assim: o procedimento
do médico foi defendido por especialistas de fora e aguarda-se perícia que pode
trazer novos elementos; o falso “matador” foi libertado e até agora nenhum suspeito
foi preso em seu lugar; o religioso negou o crime que não apareceu vítima, nem
BO, ninguém duvidou da palavra do reverendo e o silêncio parece condenar o acusador.
É preciso entender que a vontade de que
uma versão gere dividendo ou revés à visão de mundo sua ou dos outros nada tem
com a verdade em si.
Ainda que tenha constrangido alguns que louvavam o blogueiro
da capital como detentor da verdade virtuosa e herói do povo quando detonava
políticos contrários, o critério da maioria de não condenar o pastor (que foi exceção,
entre os demais) deveria ser regra, simplesmente porque qualquer dia poderemos estar na pele do
acusado.
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