segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Facebook Não é Tribunal


Todos são inocentes até que se prove o contrário e o mínimo que se exige diante de uma grave acusação é que se busque ouvir a parte suspeita; eis duas regras de ouro do jornalismo e do senso de justiça de cada um. Certo? Certo! Mas nem sempre isso importa para quem recebe ou consome informação. 


Aqui não vou falar de bons ou maus jornalistas porque uns e outros sempre existirão. Sempre haverá quem cega ao defender uma causa a ponto de prejulgar e condenar inocentes. E os pistoleiros da honra alheia, que recebem para caluniar e destruir a moral dos outros não serão facilmente detidos. 


Trato aqui de uma coisa mais assustadora que escribas afoitos ou desonestos: a opinião pública, este monstro disforme que, com a internet, acrescentou velocidade a seu vasto poder destrutivo. Novo fenômeno da mídia, o facebook está virando rapidamente um tribunal implacável e irracional. 


Para muitos leitores ou “faces” notícia correta é aquela que satisfaz sua opinião ou reafirma conceitos e pré-conceitos consolidados. 


Se temos, por exemplo, um sistema de saúde que beira o caos de tão ruim, toda morte é sempre culpa do médico e a apuração dos fatos pouco importa. Se o acusado de qualquer coisa, por qualquer blogueiro for o político que detesto, ainda que o autor não apresente indício sequer, não tem como não ser verdade o que ali for dito. Diante de uma injustificável violência contra um jovem honesto e trabalhador se releva até a sanha de linchamento do suspeito, ainda que se descubra – depois – não ser ele o assassino.


Mas todo grupo social tem seus totens e serem humanos acima do bem e do mal. Estes, ungidos em estado perene de inocência, dada dificuldade de acreditar que sejam falíveis, surgem para restabelecer a lógica.   


Tivemos recentemente a mídia local (de Chapadinha) e as redes sociais confrontadas com casos simbólicos: um médico execrado sem chance de defesa, a prisão do “homicida” errado, e um pastor acusado de crime sem vítima, queixa ou indício. 


Passados alguns dias, os três casos se encontram assim: o procedimento do médico foi defendido por especialistas de fora e aguarda-se perícia que pode trazer novos elementos; o falso “matador” foi libertado e até agora nenhum suspeito foi preso em seu lugar; o religioso negou o crime que não apareceu vítima, nem BO, ninguém duvidou da palavra do reverendo e o silêncio parece condenar o acusador.


É preciso entender que a vontade de que uma versão gere dividendo ou revés à visão de mundo sua ou dos outros nada tem com a verdade em si.  


Ainda que tenha constrangido alguns que louvavam o blogueiro da capital como detentor da verdade virtuosa e herói do povo quando detonava políticos contrários, o critério da maioria de não condenar o pastor (que foi exceção, entre os demais) deveria ser regra, simplesmente porque qualquer dia poderemos estar na pele do acusado.  

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