Degradação
Ambiental às Margens da BR 222
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Por: Anaximandro Cavalcante – Psicólogo
Diz-se
que um gesto vale por mil palavras, eu pergunto, quanto vale uma cena inteira
retratada em um único gesto? Em 1817, o
escritor francês Marie-Henri Beyle, mais conhecido como Stendhal, depois de ter
admirado os monumentos fúnebres de Vittorio Alfieri, Michelangelo e Galileu na
basílica da Santa Cruz, em Florença, registra: “Atingi aquele nível de emoção onde se encontram as sensações celestes
oferecidas pela arte e pelos sentimentos de paixão. Saindo da Santa Cruz, tive
uma palpitação no coração, a vida para mim tornou-se árida, eu caminhava
temendo cair”. Esse distúrbio hoje é conhecido como “síndrome de Stendhal”. Uma caminhada às margens da BR 222 em
Chapadinha pode ser considerada uma viagem da alma, capaz de revelar uma trama
de emoções e sentimentos na qual a identidade do contemplador é colocada à
prova. Ali várias obras de arte se revelam mostrando o quanto nossa sociedade
caminha em contramão com a ideologia do seculo XXI voltada à proteção do meio
ambiente.
Nestas duas obras a ação se desenvolve de dia, sob as folhas de uma
velha e frodosa árvore, ao que chega um potente raio de luz que ilumina
intensamente às personagens que intervêm na composição. Nestas obras aparece a
milícia do “capão assado” no momento no qual este dá a ordem de marchar à
natureza. Os personagens aparecem captados pelo pintor tal qual dejetos de uma
insanidade cultural que avança por entre arvoredos e bosques pregando as
maravilhas do mundo capitalista.
Este ordenamento é completamente original e constitui um novo jeito de
conceber a ecologia que pela sua situação no fundo da cena é dificilmente
distinguível. Seu estilo, no entanto pode causar a contrariedade de alguns
ambientalistas. A disposição das figuras segue uma ordem hierárquica precisa, o
pintor baseou a colocação das personagens unicamente em razões plásticas,
metálicas e orgânicas. Elas exprimem rotina e convencionalismo, e um total
desrespeito à natureza. As personagens com trajes preto e branco dominam a
cena, dirigindo a olhada do espectador para eles mesmos. A natureza fica
diminuída pela invasão de outros elementos em seu habitat.
Influenciado por Caravaggio, aqui o pintor usa o “chiaroscuro”, criando
fortes contrastes entre a natureza e a civilização. A civilização provém do
centro, segundo a direção das sombras projetadas. Esta civilização, apesar da
sua concepção naturalística, não age ecologicamente, relegando a natureza à
sombra. Esta civilização aparece no centro da obra, no interior dos dejetos. A
civilização é a grande protagonista deste quadro, porque recria uma atmosfera
mágica de penumbras, decadência econômica, poluição e desmatamento.
Aqui a cor é aplicada com pinceladas espontâneas. O cromatismo da tela
desenvolve-se em tons cálidos das terras e do branco ocre. Usa tonalidades
opostas para contrastar como o claro e obscuro da figura central, em contraste
com o verde iluminado.
Nesta última pintura o artista usou a técnica por Caravaggio concebida,
o “tenebrismo”, a qual consiste na aplicação de um fundo horrendo, muitas vezes
completamente negro, e incidência de focos de impureza sobre os detalhes
vegetominerais.
A cena desenrola-se às margens da BR 222 em Chapadinha. Reflete o
instante no qual abençoamos nossa refeição, revelando a nós como retribuimos ao
solo tudo o que ele nos dá, a obra é em si expressão de espanto ou choque.
Aparecendo no centro da obra, a ação sacrificial da natureza que surge
aparentando ser uma divindade, um conselheiro.
Vemos
aqui o exército da morte avançando sobre uma paisagem sóbria, exterminando
tudo, deixando apenas destruição e desolação. As cores quentes, sobretudo o
ocre, acentuam ainda mais o aspecto infernal da imagem. Os tons brancos e
cinzas, que salpicam a imagem em vários pontos, criam contrastes que só
acentuam a dramaticidade da cena. O ângulo do olhar do espectador, direcionado
ao chão, reafirma a visão apocalíptica da imagem. Nesta obra, o conteúdo moral
é o da morte impiedosa da natureza. É impactante a figura da degradação da
natureza, mostrado aqui através de cena episódica, onde a multiplicação de
pequenos objetos ocupa a vastidão do espaço representado em um cenário de fundo dramático, no qual o mundo parece estar no estado de
loucura ambiental.
Um comentário:
Não precisa ir muito longe na BR 222, dentro da cidade na Raimundo Vieira Passos e observa quanto lixo tem e, como consequência os urubus. È deprimente...
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