"Gostaria de desejar que sua turnê internacional, que se inicia agora em janeiro, seja a primeira de muitas. Aliás, não seria mau se você resolvesse passar logo todo o ano de 2012 viajando pelo mundo. Nada pessoal, é só uma precaução com o meu cérebro"
Prezado Michel,
Antes de mais nada, feliz 2012! Espero que
sua noite de réveillon tenha sido memorável; a minha com certeza foi, visto
que, na festa em que estive, a chegada do novo ano foi relegada a segundo plano
devido a batalha campal que se deu entre o grupo que queria ouvir “Ai se eu te
pego” em looping até o amanhecer e o outro, que não desejava escutar a música
sequer uma vez. Ao invés de comer uvas ou pular 7 ondinhas, os presentes
preferiram se dedicar a calorosas discussões sobre temas como direto de
expressão, identidade cultural brasileira e tolerância, com direito a
argumentos do quilate de “é proibido proibir” e “não quer ouvir, tape os
ouvidos”.
Como se não bastasse, minha mulher – que por
razões injustificáveis ainda não conhecia o hit do verão – deixou o local
entoando os versos criados por Axé Moi (também conhecida pela Dança do
Quadrado), só que errado (ai, delícia, se te pego/ai, delícia, se te pego), o
que apenas contribuiu para que a referida música se apoderasse do meu cérebro
tal qual o exército americano fez com o território afegão em sua cruzada
anti-terrorismo. Apesar da gravidade dos fatos descritos, saiba que não guardo
rancor de você. Afinal, eu mais do que ninguém sei o que é estar a frente de uma
canção que fugiu do controle. Na época em que Anna Júlia foi lançada, ao menos,
não havia Youtube, o que certamente poupou nossos detratores da infindável
proliferação de clipes da música, protagonizados por bêbados gregos dançando em
Ibiza ou por italianos solitários cantando o refrão pegajoso em frente a
webcam.
Ao assistir ao vídeo que registra soldados
israelenses pulando feito bobos da corte ao som de “Ai se eu te pego” no meio
do deserto, tive a impressão de que o sentimento que a cena deve despertar em
você seja algo semelhante a quando conheço uma menina de 12 ou 13 anos que se
chama Anna Júlia. É estranho, e ao mesmo tempo fascinante, quando uma música
nossa passa a fazer parte assim da vida das pessoas, né? Agora imagine o que
não estar por vir no trilho dessa versão que você acabou de gravar em inglês? A
internacionalização do nosso hit, não sei se você lembra, além de regravações
em espanhol, italiano e inglês, rendeu nada menos do que uma participação de
George Harrison, fato que até hoje nos enche de orgulho.
Bom, independente do que acontecer daqui pra
frente – e não sei se isso serve bem de consolo – acredite que provavelmente
daqui a dez anos você ainda será amado ou odiado por causa de “Ai se eu te
pego”, portanto faço votos sinceros de que consiga construir um legado musical
consistente o bastante para evitar que todo seu trabalho seja tomado por uma só
música.
Antes de correr o risco de me estender
demais, gostaria de desejar que sua turnê internacional, que se inicia agora em
janeiro, seja a primeira de muitas. Aliás, não seria mau se você resolvesse
passar logo todo o ano de 2012 viajando pelo mundo. Nada pessoal, é só uma
precaução com o meu cérebro. Para terminar, um único pedido: da próxima vez que
gravar uma música, em prol da sanidade mental de milhões de pessoas, por favor,
considere não criar dancinhas.
um abraço,
Bruno Medina
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