Apesar
de toda distorção da mídia elitista vez por outra surgia alguém para tratar a
figura de Hugo Chávez com isenção e equilíbrio. Veja o que diz a respeito dele, o
insuspeito ex-ministro Luís Carlos Bresser-Pereira, em artigo
publicado em outubro, após a última de muitas vitórias com o voto popular que
o líder bolivariano obteve em seu país.
Por:
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
"Se
as liberdades e o sufrágio universal estão assegurados, a democracia,
garantida, e os cidadãos não estão ameaçados de expropriação por políticos
revolucionários, não há razão para cidadãos com espírito republicano votarem em
candidatos que defendem interesses dos ricos.
Eles
estarão agindo de acordo com princípios de justiça se escolherem candidatos
razoavelmente competentes que estejam comprometidos com os interesses dos
pobres.
Estas
considerações podem ser relevantes para eleitores de classe média decidirem seu
voto, mas o que decide eleições é o voto dos pobres, como acabamos de ver na
reeleição de Hugo Chávez na Venezuela.
Sua
nova vitória comprova que a Venezuela é uma democracia e que os pobres lograram
votar de acordo com seus interesses. Mas mostra também que os venezuelanos de
classe média que nele votaram não defenderam seus interesses oligárquicos, mas
os da maioria. Agiram conforme o critério republicano.
Chávez
não é um revolucionário, mas um reformador. Sua retórica relativa ao
"socialismo bolivariano" dá a impressão de que está prestes a
implantar o socialismo no país, mas seus atos deixam claro que não tem essa
intenção nem esse poder.
Essa
mesma retórica alimenta a oposição local e dos Estados Unidos -uma potência
imperial que, desde que ele foi eleito pela primeira vez, procura
desestabilizá-lo.
Mais
importantes, porém, são suas ações de governo. Essas apresentaram resultados
impressionantes.
A
renda per capita, que em 1999 era de US$ 4.105, passou a US$ 10.810 em 2011; a
pobreza extrema foi de 23,4% da população para apenas 8,8%; e o índice de
desigualdade caiu de 55,4% em 1998 para 28%, em 2008, com Chávez.
A
Venezuela é um país muito difícil de governar porque é pobre e heterogêneo. E
os interesses em torno do petróleo são enormes.
Nesse
quadro de dificuldades, Chávez vem representando de forma exemplar a luta de
uma coalizão política desenvolvimentista formada por empresários (poucos),
trabalhadores e burocracia pública contra uma coalizão liberal e dependente
formada por capitalistas rentistas, financistas, e pelos interesses
estrangeiros. A luta de um país pobre para realizar sua revolução nacional e
capitalista e melhorar o padrão de vida de seu povo.
Nas
últimas eleições, o establishment internacional voltou a apoiar o candidato da
oposição. Mas o que tem sido a oposição "liberal" na Venezuela desde
a Segunda Guerra?
Essencialmente,
uma oligarquia corrupta que se alternou no poder por 50 anos em um simulacro de
democracia; uma elite econômica que reduziu a política à partilha das rendas do
petróleo entre seus membros; um governo de ricos que sempre se submeteu às
recomendações de política econômica do Norte, e exibiu, entre 1950 e 1999, o
mais baixo crescimento de PIB da América Latina.
O
establishment internacional ainda não foi vencido, e a nação venezuelana não
está consolidada. Chávez contou com a ajuda dos preços elevados do petróleo
para realizar um governo desenvolvimentista e social. Não a terá sempre.
Mas
as últimas eleições mostraram que o povo venezuelano construiu uma democracia
melhor do que aquela que o nível de desenvolvimento do país deixaria prever.
E
que esta democracia é o melhor antídoto contra a oligarquia interna e o
neoliberalismo importado."
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