quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O Maior Crime de Chapadinha

Degradação Ambiental às Margens da BR 222

Por: Anaximandro Cavalcante – Psicólogo 

Diz-se que um gesto vale por mil palavras, eu pergunto, quanto vale uma cena inteira retratada em um único gesto?  Em 1817, o escritor francês Marie-Henri Beyle, mais conhecido como Stendhal, depois de ter admirado os monumentos fúnebres de Vittorio Alfieri, Michelangelo e Galileu na basílica da Santa Cruz, em Florença, registra: “Atingi aquele nível de emoção onde se encontram as sensações celestes oferecidas pela arte e pelos sentimentos de paixão. Saindo da Santa Cruz, tive uma palpitação no coração, a vida para mim tornou-se árida, eu caminhava temendo cair”. Esse distúrbio hoje é conhecido como “síndrome de Stendhal”. Uma caminhada às margens da BR 222 em Chapadinha pode ser considerada uma viagem da alma, capaz de revelar uma trama de emoções e sentimentos na qual a identidade do contemplador é colocada à prova. Ali várias obras de arte se revelam mostrando o quanto nossa sociedade caminha em contramão com a ideologia do seculo XXI voltada à proteção do meio ambiente.

Nestas duas obras a ação se desenvolve de dia, sob as folhas de uma velha e frodosa árvore, ao que chega um potente raio de luz que ilumina intensamente às personagens que intervêm na composição. Nestas obras aparece a milícia do “capão assado” no momento no qual este dá a ordem de marchar à natureza. Os personagens aparecem captados pelo pintor tal qual dejetos de uma insanidade cultural que avança por entre arvoredos e bosques pregando as maravilhas do mundo capitalista. 

Este ordenamento é completamente original e constitui um novo jeito de conceber a ecologia que pela sua situação no fundo da cena é dificilmente distinguível. Seu estilo, no entanto pode causar a contrariedade de alguns ambientalistas. A disposição das figuras segue uma ordem hierárquica precisa, o pintor baseou a colocação das personagens unicamente em razões plásticas, metálicas e orgânicas. Elas exprimem rotina e convencionalismo, e um total desrespeito à natureza. As personagens com trajes preto e branco dominam a cena, dirigindo a olhada do espectador para eles mesmos. A natureza fica diminuída pela invasão de outros elementos em seu habitat.

Influenciado por Caravaggio, aqui o pintor usa o “chiaroscuro, criando fortes contrastes entre a natureza e a civilização. A civilização provém do centro, segundo a direção das sombras projetadas. Esta civilização, apesar da sua concepção naturalística, não age ecologicamente, relegando a natureza à sombra. Esta civilização aparece no centro da obra, no interior dos dejetos. A civilização é a grande protagonista deste quadro, porque recria uma atmosfera mágica de penumbras, decadência econômica, poluição e desmatamento.

Aqui a cor é aplicada com pinceladas espontâneas. O cromatismo da tela desenvolve-se em tons cálidos das terras e do branco ocre. Usa tonalidades opostas para contrastar como o claro e obscuro da figura central, em contraste com o verde iluminado.

Nesta última pintura o artista usou a técnica por Caravaggio concebida, o “tenebrismo”, a qual consiste na aplicação de um fundo horrendo, muitas vezes completamente negro, e incidência de focos de impureza sobre os detalhes vegetominerais.

A cena desenrola-se às margens da BR 222 em Chapadinha. Reflete o instante no qual abençoamos nossa refeição, revelando a nós como retribuimos ao solo tudo o que ele nos dá, a obra é em si expressão de espanto ou choque. Aparecendo no centro da obra, a ação sacrificial da natureza que surge aparentando ser uma divindade, um conselheiro.

Vemos aqui o exército da morte avançando sobre uma paisagem sóbria, exterminando tudo, deixando apenas destruição e desolação. As cores quentes, sobretudo o ocre, acentuam ainda mais o aspecto infernal da imagem. Os tons brancos e cinzas, que salpicam a imagem em vários pontos, criam contrastes que só acentuam a dramaticidade da cena. O ângulo do olhar do espectador, direcionado ao chão, reafirma a visão apocalíptica da imagem. Nesta obra, o conteúdo moral é o da morte impiedosa da natureza. É impactante a figura da degradação da natureza, mostrado aqui através de cena episódica, onde a multiplicação de pequenos objetos ocupa a vastidão do espaço representado em um cenário de fundo dramático, no qual o mundo parece estar no estado de loucura ambiental.

Um comentário:

Flor@rterapia disse...

Não precisa ir muito longe na BR 222, dentro da cidade na Raimundo Vieira Passos e observa quanto lixo tem e, como consequência os urubus. È deprimente...