sexta-feira, 31 de maio de 2013

Maranhão: "Não Falta Pão, Falta Partilha"


Por: Lígia Teixeira – Jornal Pequeno

O caso absurdo de uso de mão de obra escrava em um empreendimento  do governo do estado do Maranhão é simbólico.

Simbólico não apenas porque choca e indigna, mas, sobretudo porque é um exemplo claro do nível de degradação e desigualdade no qual o Maranhão se encontra.

O governo do estado parece não ter se sentido constrangido por ter sido flagrado como financiador direto da exploração de mão de obra escrava, encontrada na obra do Arraial da Lagoa da Jansen. Ao contrário, em nota divulgada na imprensa, o Secretário Estadual do Meio Ambiente, deputado Victor Mendes, estava mais preocupado em se eximir de responsabilidade, caso o arraial não fique pronto a tempo.

Ao silenciar sobre essa grave situação, o governo Roseana demonstra desprezo pela sociedade e assume que não está desconfortável na situação de cúmplice do caso.

Em tese, é difícil compreender como um ser humano se sujeita à condição de escravo em pleno século XXI, mas na prática, basta ver a realidade do Maranhão, especialmente na baixada Maranhense, região de origem dos trabalhadores escravos encontrados na obra do arraial.

Há testemunhos de que em muitos lugares do estado há desequilíbrio gritante entre a população masculina e feminina. Os homens, muitos deles pais de família, para não serem consumidos pela miséria, estão indo embora de suas cidades em busca de trabalho. No desespero para garantirem a sobrevivência, caem nas mãos dos espertalhões.

Há uma outra dura realidade por trás do que aconteceu na Lagoa da Jansen e que muitos de nós às vezes não queremos enxergar para evitar o confronto com a tristeza que dilacera o espírito.

O contraste entre o uso da mão de obra escrava em plena capital e ainda por cima patrocinada pelo governo com a finalidade de construir uma obra para atender justamente aos mais aquinhoados membros da sociedade, choca. Sim, porque embora seja aberto a todos, o arraial da Lagoa fica situado na área mais nobre da cidade e, portanto, é acessível quase exclusivamente aos mais remediados.

Por essa linha de raciocínio é lamentável observar que o caso demonstra a gritante desigualdade social no Maranhão.

Desigualdade social é uma palavra fora de moda, quase um clichê. Foi usada durante muitos anos para conceituar a situação no Brasil numa época em que programas de transferência de renda ainda não existiam. Com o tempo e a diminuição da desigualdade no Brasil, ela saiu de moda.

Mas, no Maranhão, o índice alarmante de desigualdade social não apenas permaneceu, como se transformou numa espécie de banalidade social corriqueira, ainda mais porque patrocinada pelo estado, a instituição que deveria existir justamente para evitar que esse tipo de coisas ocorressem.

O caso do uso de mão de obra escrava em um empreendimento feito pelo governo do estado e o silenciamento do próprio governo sobre o assunto, demonstram que o poder público estadual nada fará para impedir que esse tipo de barbárie continue.

Resta à sociedade exigir o fim da violência física e simbólica provocada pela desigualdade social tão absurda que submete seres humanos à escravidão.  O primeiro passo é inverter a lógica  do estado escravizador, transformando a máquina pública estadual num agente de distribuição da riqueza existente no Maranhão e não num patrocinador da miséria como no caso da escravidão no Arraial da Lagoa.


Em síntese: não falta pão, falta partilha.

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