sexta-feira, 26 de abril de 2013

Não Aceitam Uma Coisa, Nem Podem Evitar a Outra



O blogueiro Ivandro Coelho publicou importante texto sobre a briga no governo, entre seguidores do ex-prefeito Isaías Fortes e aliados do secretário de obras Aluísio Santos. Reproduzo a postagem dele, comentando em negrito, após cada parágrafo. Vamos lá.    
Cada um usa o verniz que lhe convém. Para a oposição, Isaías é um coitadinho injustiçado, enquanto Aluísio é um sujeito maquiavélico, que trama dia e noite o rompimento da prefeita com o grupo do “dono dos votos”. Belezinha erra, segundo eles, porque simplesmente assiste a tudo inerte, como se não fizesse parte do jogo. Nada mais simplório e malicioso.  
Em outros trechos do texto, vou mostrar porque concordo que Isaías não pode ser considerado coitadinho, nem Aluísio maquiavélico em sentido negativo. Já com relação a Belezinha, a impressão que passa é que – de fato – acompanha a tudo sem dizer palavra, não  demonstra o que quer ou qual o seu papel neste jogo.  
Na verdade, Isaías não está nem um pouco enfraquecido. Muito menos injustiçado. Sua base eleitoral e seu prestígio permanecem intactos. Com uma diferença: agora ele dispõe de três das principais secretarias – administração, educação e saúde – para fazer o que mais gosta - política - e, ao mesmo tempo, tentar turbinar a candidatura de sua filha Isamara. O que mais queria?  
Isaías certamente não é “um pobre coitado”, mas se diz vítima mesmo. Faz sim campanha junto ao eleitorado que levou Belezinha a vitória, se dizendo injustiçado por ela. Para tanto, ele usa o argumento de que até os aliados que colocou na educação e administração hoje não lhe atendem, já pertenceriam à cota pessoal da prefeita e que na saúde os poderes de seu genro seriam pra lá de limitados.
Outra coisa: a oposição diz que falta autonomia para gerenciar recursos da saúde. Embora seja um exagero, nesse aspecto a prefeita está mais do que certa: deve mesmo acompanhar e controlar os gastos. Um exemplo: no primeiro mandato, Magno deu total liberdade ao gestor de saúde e o resultado todos já sabem: um rombo de 1, 2 milhões nos cofres públicos, um vereador "espoca urna" e um processo no Ministério Público Federal.  
Sem entrar no mérito, estas linhas só parecem confirmar a falta de autonomia. Em frente.
Mas o problema aqui não é falta de autonomia, já que o atual secretário tanto  pode contratar como adquirir equipamentos. O que não se pode admitir é que um órgão seja transformado em trampolim para uma candidatura. Muito menos seja usado como escoadouro de recursos para garantir caixa de campanha. O descontentamento talvez esteja aí, uma vez que Belezinha, ao que parece, não estaria permitindo isso. 
Realmente, podendo contratar a rodo e adquirir equipamentos até de parentes (fatos denunciados pelos blogueiros Ivandro e Ernani Maia), o problema aqui é maior que a falta de autonomia. Antes que a saúde vire trampolim de candidatura ou garanta caixa de campanha com recursos desviados, o melhor caminho seria a demissão de quem se prepara para assim fazer. Belezinha teria essa coragem?

Quanto ao argumento de que Belezinha só foi eleita devido ao prestígio político de Isaías  - e que, portanto, lhe deve total gratidão -, há novamente exagero e malícia. Ora, se é verdade que não se ganha eleição sem popularidade, também é verdade que só se vence um processo eleitoral  com estrutura financeira e uma ficha limpa. Prova disso é que Isaías, mesmo com todo o prestígio, foi derrotado duas vezes por Magno e uma por Danúbia. Ou melhor: no último caso, pela Justiça Eleitoral.
Com tamanha estrutura financeira – cujo abuso, levantado em processo de cassação – pode lhe apear do poder e manchar a ficha, Belezinha, por certo, venceu com outros apoios. Mas Isaías foi de longe quem contribuiu com mais votos, isso é fato! Sem o apelo por mudança que foi encarnado, porém até agora não correspondido, por Belezinha, o destino de Isaías talvez seja mesmo o de (sozinho) perder eleições.  
 
Além do mais, existe uma diferença entre gratidão e subserviência. Entre perdas e ganhos, Belezinha, no fim das contas, teve muito mais prejuízos do que ganhos. Se não, vejamos: foi traída e humilhada em plena posse. Está sendo achincalhada pelos quatro cantos da cidade pela oposição e - o que é pior! - por aliados. Além disso, ainda está assumindo todo o ônus dos entraves administrativos provocados por irresponsabilidade de gestões passadas. Então,  senhores, quem está na boa?
Humilhada, traída, achincalhada pelos quatro cantos até por aliados... ou Belezinha demonstra gosto espantoso por engolir sapo, é fraca e sem iniciativa ou há exagero na análise.
Já os que tentam classificar o secretário de obras como o "todo-poderoso do governo" querem simplesmente provocar discórdia e queimá-lo politicamente. Aluísio é apenas alguém que está contrariando interesses de pessoas que, no fundo, gostariam de estar em seu lugar. Portanto, caro leitor, é preciso cuidado para não embarcar em falácias. Essa história de querer vitimizar Isaías e crucificar Aluísio e a prefeita revela apenas o desejo de quem aposta no pior. 
Concordo: nem oito nem oitenta. Aluísio não é apenas um “rapaz latino americano” desprovido de prestígio, tampouco é malévolo conspirador com poderes ilimitados.  Falta-lhe, na minha opinião, clareza na estratégia e no combate. Até porque os demais atores do processo político precisam saber quais interesses precisam ser contrariados ou contidos.  

É certo que as divergências existem, não há dúvida. Mas isso ocorre em qualquer lugar. Principalmente em governos com uma composição tão heterogênea como é o de Belezinha. No fundo, é até bom para a sociedade que as diferenças venham à tona, porque permitem ver de perto os bastidores do poder. Antes não havia isso. Tudo era maquiado por uma cortina midiática e tinha-se a impressão de que o governo era coeso e transparente. Pura ilusão.
Uno este parágrafo com o último, num só comentário. Adiante.
Se não existe consenso atualmente, nem por isso se pode dizer que o governo está esfacelado, perdido. Muito menos que existe uma trama maquiavélica para expulsar Isaías e seus partidários da prefeitura. Ou, ainda, que ele estaria sendo desprestigiado e injustiçado. Nada disso. Se alguém duvida, basta observar os fatos para perceber o óbvio: não se trata nem de uma coisa, nem de outra.
Esfacelado ou não, o governo ainda precisa mostrar serviço e esta briga interna pode não ser a única explicação pra tamanha incompetência. Decantado e assumido, o racha cristaliza a contradição daqueles que (por motivos legítimos, ou apenas retórica de quem quer mandar sozinho) avaliam Isaías como atrasado e nocivo, não desejam conviver e não se contentam em dividir poder com ele. Mesmo assim, não admitem fazer uma coisa, nem podem evitar a outra.  

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