quinta-feira, 25 de abril de 2013

AS CRIANÇAS DO HAPA



Por: Anaximandro Cavalcanti – Psicólogo

A criança ao ser hospitalizada vivenciará uma história de sofrimento, seja em um hospital particular ou público, seja no primeiro, segundo, ou terceiro mundo. Mas esse sofrimento pode tomar proporções ainda maiores se essa hospitalização não for adequadamente elaborada, deixando marcas em sua saúde mental, podendo causar diversos efeitos negativos sobre o seu desenvolvimento.

Para uma criança, a hospitalização é sempre uma história de dificuldade e sofrimento; ela será retirada de seu mundo de fantasia onde nada de ruim acontece, será impedida de brincar e inserida em um ambiente estranho e ameaçador, com sons e imagens que mobilizam medos e fantasias, pois além da doença que está presente, sofre com a dor e o mal-estar, com as regras hospitalares, com a falta de seus amigos, com as constantes visitas indesejáveis das enfermeiras, com a exposição de seu corpo, e com a realização de inúmeros procedimentos dolorosos e invasivos, percebendo seu corpo como algo não mais seu, e ao mesmo tempo, se sentindo traída, por não entender o que está ocorrendo, percebendo-se pequena e indefesa.

Esses sintomas por si só, já favoreceriam bloqueios no processo de desenvolvimento saudável de uma criança, especialmente se a doença ou a internação for longa e duradoura. Agora, quando você coloca crianças para serem atendidas em um ambiente onde elas estão presenciando angústia, sofrimento e dor, vendo pessoas gravemente feridas, é no mínimo desumano; o Art. 5º do Estatuto da Criança e do Adolescente diz: Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.

Eu, particularmente, vejo como violência e crueldade expor uma criança a cenas de sofrimento. Você mesmo, adulto, que agora lê este texto, há de concordar em uma coisa, ninguém gosta de hospital, ver pessoas feridas nos causa enjôo, ninguém se sente bem em um hospital porque lá é um lugar de dor. Nós, adultos já temos nossos mecanismos de defesa desenvolvidos, sabemos que a dor e a morte fazem parte da vida, mas uma criança é diferente, isso para ela é um choque de realidade muito grande, é como se de repente descobríssemos que Deus nunca existiu!

Poupem nossas crianças de tanta dor! Dêem a elas um lugar digno para enfrentarem e vencerem seus pequenos monstrinhos!

Foto: William Fernandes

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