Por: Anaximandro
Cavalcanti – Psicólogo
A
criança ao ser hospitalizada vivenciará uma história de sofrimento, seja em um
hospital particular ou público, seja no primeiro, segundo, ou terceiro mundo.
Mas esse sofrimento pode tomar proporções ainda maiores se essa hospitalização
não for adequadamente elaborada, deixando marcas em sua saúde mental, podendo
causar diversos efeitos negativos sobre o seu desenvolvimento.
Para
uma criança, a hospitalização é sempre uma história de dificuldade e
sofrimento; ela será retirada de seu mundo de fantasia onde nada de ruim
acontece, será impedida de brincar e inserida em um ambiente estranho e
ameaçador, com sons e imagens que mobilizam medos e fantasias, pois além da
doença que está presente, sofre com a dor e o mal-estar, com as regras
hospitalares, com a falta de seus amigos, com as constantes visitas
indesejáveis das enfermeiras, com a exposição de seu corpo, e com a realização
de inúmeros procedimentos dolorosos e invasivos, percebendo seu corpo como algo
não mais seu, e ao mesmo tempo, se sentindo traída, por não entender o que está
ocorrendo, percebendo-se pequena e indefesa.
Esses
sintomas por si só, já favoreceriam bloqueios no processo de desenvolvimento
saudável de uma criança, especialmente se a doença ou a internação for longa e
duradoura. Agora, quando você coloca crianças para serem atendidas em um
ambiente onde elas estão presenciando angústia, sofrimento e dor, vendo pessoas
gravemente feridas, é no mínimo desumano; o Art. 5º do Estatuto da Criança e do
Adolescente diz: Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma
de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão,
punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus
direitos fundamentais.
Eu,
particularmente, vejo como violência e crueldade expor uma criança a cenas de
sofrimento. Você mesmo, adulto, que agora lê este texto, há de concordar em uma
coisa, ninguém gosta de hospital, ver pessoas feridas nos causa enjôo, ninguém
se sente bem em um hospital porque lá é um lugar de dor. Nós, adultos já temos
nossos mecanismos de defesa desenvolvidos, sabemos que a dor e a morte fazem
parte da vida, mas uma criança é diferente, isso para ela é um choque de
realidade muito grande, é como se de repente descobríssemos que Deus nunca
existiu!
Poupem
nossas crianças de tanta dor! Dêem a elas um lugar digno para enfrentarem e
vencerem seus pequenos monstrinhos!
Foto: William Fernandes
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