Por:
Eduardo Braga – Jornalista
Nessas
horas, sempre aparece o pessoal pra dizer que nós não podemos julgar os outros,
que cada pessoa é diferente, que a gente tem que respeitar e não sei o que. Eu
não consigo! Julgo mesmo e julgo com rigor qualquer pessoa que, não tendo
relação direta com o caso, tenha coragem de apontar o dedo e crucificar essa
criança.
Uma
empregada doméstica de 14 anos, vinda da zona rural, que engravida e não sabe
lidar com a situação. Pronto, a internet vai a loucura para apedrejá-la.
Em
nenhum dos comentários dos inquisidores virtuais vejo alguma consideração sobre
o pai do bebê, sobre a família da moça, sobre a falta de educação sexual, sobre
o tabu em torno dos métodos contraceptivos, sobre a falta de informação, sobre
o controle estatal sobre os corpos das mulheres, sobre depressão pós-parto,
sobre a burocracia para doar e adotar. Não, nada disso.
Pessoas
em condições de vida muito mais favoráveis que a dela se sentem a vontade para
julgá-la sem conhecê-la e saber das suas circunstâncias.
Houve
até quem misteriosamente tenha conseguido entrar na cabeça da moça para
escrever que ela agiu com frieza, sem remorso e tranquilamente.
Faltou dizer
que fez por diversão, talvez seja um hobby. Francamente!
As
pessoas precisam sair um pouco de dentro de si e enxergar o mundo ao redor. Nós
somos nós e as nossas circunstâncias. Uma criança de 14 anos jamais deveria
estar na situação que essa menina esteve. Engravidar, ficar sozinha,
trabalhando, sem condição de ter e criar a criança, sem acesso ao direito de
decisão sobre seu ciclo reprodutivo.
Não
pode ser pintada como vilã por errar uma menina a quem não se deu a chance de
acertar. Nós, sociedade, precisamos proteger, educar e dar oportunidade às
crianças e aos adolescentes para que nunca mais uma menina se encontre na
situação desesperadora que essa teve que enfrentar sozinha.
Num
país onde mais de 20% dos partos no SUS são de mulheres até 19 anos, ainda há
quem queira se fechar no julgamento da conduta individual desta ou daquela moça
(e nunca dos moços) ao invés de enxergar os problemas estruturais que nos levam
a repetidas manchetes como esta.
Palmas
de pé apenas para o casal que se dispôs a adotar o bebê. A humanidade desses
dois é um exemplo a ser seguido. Aos demais, guardem suas pedras, envergonhem-se
por julgar sumariamente, reflitam mais sobre os valores que carregam em si,
sobre a falta de empatia e compaixão. E a todos nós, muita reflexão sobre as
razões de tragédias como essa se repetirem e nada ser mudado para evitá-las.
Um comentário:
Concordo plenamente
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