O
desembargador Ney Bello fez uma importante análise da geração que viveu às
custas da farra do dinheiro público que dominou o Maranhão nas últimas décadas.
Em artigo publicado neste domingo (3), ele ressaltou que parte da sua geração
“se vê dependente de uma mesada pública, de um cargo de empréstimo, de um
salário de dádiva”.
Tais
facilidades alcançadas nos últimos anos devido à esquemas de corrupção, fez com
que várias famílias fossem alçadas à “elite”, termo que se reconstituiu no
Maranhão da bandalheira, ficando bem longe da bem aventurança nos negócios
privados ou da construção de conhecimento acumulado às custas de estudo,
leitura, discussão e raciocínio.
“Vejo
um conjunto de sobrenomes que não se afirmou intelectualmente, não estudou o
bastante, não adquiriu cultura diferenciada, não foi bem sucedido
empresarialmente e, agora, não tem condições de sustentar seu modo de vida,
sozinho”, pontuou no artigo.
Para
ele, essa geração sanguessuga não passa de uma moribunda aristocracia das
dependências estruturais, e relata que “é preciso que as gerações que estão por
vir entendam que não são piores ou melhores do que ninguém. Pobres e ricos,
homens e mulheres somos todos iguais”.
O
recado dado pelo desembargador Ney Bello aos dependentes da oligarquia Sarney,
sobretudo, se concretizou na última parte do artigo, quando ele faz a seguinte
reflexão: “Precisamos de uma geração que avance para o mundo, não de uma
geração que reze por uma licitação fraudada, uma assessoria gratuita ou um
salário na EMAP”.
De
fato, a geração “construída” às custas da farra do dinheiro público no Maranhão
ao longo das últimas décadas, deixou uma geração da “elite” baseada na máxima
vitorinista: “aos amigos tudo, aos inimigos os rigores dos concursos e das
licitações”.
É
por isso que a tal “elite” anda tão incomodada com o Maranhão que se reconstrói
em um Estado feito para todos.
Confira
a íntegra de UM POUCO DE LUCIDEZ, de Ney Bello:
O
atual momento pelo qual passa o Maranhão suscita questões de toda ordem. Uma
das que mais me chama atenção – não sem muita tristeza – é o status das vidas
privadas dependentes do espaço público. Parte da minha geração se vê dependente
de uma mesada pública, de um cargo de empréstimo, de um salário de dádiva. A
palavra elite ficou longe da bem aventurança nos negócios privados ou da
construção de conhecimento acumulado às custas de estudo, leitura, discussão e
raciocínio. Vejo um conjunto de sobrenomes que não se afirmou intelectualmente,
não estudou o bastante, não adquiriu cultura diferenciada, não foi bem sucedido
empresarialmente e, agora, não tem condições de sustentar seu modo de vida, sozinho.
Porém, a rotina lhe afirma o título de elite a partir do sobrenome e dos acesso
a cargos públicos. Retiro da análise o item coluna social porque a internet
desconstruiu qualquer Ibraim Sued, ludovicense ou tupiniquim.
O
país é República desde 1889, mas nosso espírito ainda é da aristocracia, e
pessoas que queremos bem e por quem temos ânsias e ganas de ajudar e colaborar
cresceram na dependência dos negócios públicos, quer ganhando empregos sem
concurso e sem formação suficiente, quer sendo beneficiárias de negócios
privados. – obviamente construídos com o objetivo de sustentar uns poucos.
Estas
perplexidades de infinitas grandezas, descambam das prateleiras escondidas,
abandonam as suas condições de absurdos e demonstram que a nossa sociedade tem
vícios torpes. Elas se tornaram tão comuns que a ausência desse protecionismo
gera ofensa, tristeza e mágoa em alguns que não entendem que Duques, Barões e
Marqueses já não mais existem.
Não
há muito o que fazer com aqueles homens e mulheres das gerações que chegaram
até a minha e que representam a moribunda aristocracia das dependências
estruturais. Mas há muito a fazer com as gerações futuras.
Que
tal sermos menos coniventes com o ócio de nossos filhos? Com a falta de estudo?
Com os mimos tolos? Com as fofices e extravagâncias? Que tal lembrarmos que há
o certo e o errado, e o errado não virou o certo só por que os nossos estão
errando?
Talvez
seja pedagógico dizermos sempre que depende deles se acaso serão importantes
cientistas, empresários ou filósofos, ou humildes vendedores de
cachorro-quente, porque só o esforço deles constrói!
O
maior legado da minha geração para a dos meus filhos talvez devesse ser lhes
fazer pensar sobre o mundo. Mostrar que é necessário duvidar, criticar,
analisar, discutir e agir sabendo o porquê das coisas, e com base nas suas
próprias opiniões.
É
preciso que as gerações que estão por vir entendam que não são piores ou
melhores do que ninguém. Pobres e ricos, homens e mulheres somos todos iguais.
Não
sairemos da aristocracia com padrões subsaarianos se não mergulharmos na
meritocracia, no fim do jeitinho, no abandono da dependência estatal e dos
muitos favores. Precisamos chegar na república com igualdade de pontos de
partida e na regra da não proteção, para além da lei. O vitorinismo segue nos
fazendo mal com a máxima adaptável: “aos amigos tudo, aos inimigos os rigores
dos concursos e das licitações”!
Precisamos
de uma geração que avance para o mundo, não de uma geração que reze por uma
licitação fraudada, uma assessoria gratuita ou um salário na EMAP.
O
Imparcial. 03/07/2016
Ney
Bello. Pós Doutor. Membro da AML. Desembargador Federal.
Um comentário:
É muito bom saber que muitos são os candidatos pleiteando o mesmo cargo. Isso nos da opção de escolha. Precisamos agora, como candidato, aprender a desenvolver o espírito de coletividade. E deixarmos de lado o velho hábito político brasileiro de; Farinha pouca, primeiro o meu pirão. Há um grande desejo hoje, mais que nunca em todo cidadão Brasileiro, de que surja um novo conceito em nossos políticos. O conceito da coletividade, o conceito da justiça, conceito de que o público é do povo e não patrimônio pessoal. Quero aqui sugerir aos propensos candidatos um vídeo que poderá ajudar em muito o candidato que queira governar para o povo
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