Por: Anaximandro Cavalcanti – Psicólogo
Três séculos
depois de Descartes, o HAPA ainda mantém uma concepção mecanicista que
considera o corpo humano como uma máquina.
Essa concepção perde de vista o paciente como ser humano. Essa é
talvez a mais séria deficiência de nossa saúde. Uma vez que o homem não pode
ser entendido em termos reducionistas.
Saúde é um amplo conceito, um conceito que inclui dimensões
individuais, sociais e ecológicas, um conceito que exige uma visão sistêmica
dos organismos vivos. Segundo a OMS: "Saúde é um estado de completo
bem-estar físico, mental e social, e não meramente a ausência de doenças ou
enfermidades". Ora. No começo de sua historia, a medicina concebia a
doença como um distúrbio da pessoa como um todo, envolvendo não só seu corpo
como também sua mente, a imagem que tinha de si mesma, sua dependência do meio
ambiente físico e social, assim como sua relação com o cosmo e as divindades. Nossos
médicos, infelizmente tendem a desprezar esse conceito holístico.
A adoção do paradigma cartesiano dentro dos hospitais, suas
preferências por modelos quantitativos e suas negligências pelas estruturas
psicológicas dos pacientes, trás sérias desvantagens à população e aos que
precisam de seu atendimento.
O atual sistema do HAPA negligencia o atendimento humanizado.
Caracteriza-se por este enfoque reducionista e fragmentário, têm suas praticas
pautadas na matemática e na metodologia cientifica, mantendo uma visão
mecanicista do homem que era predominante nos distantes séculos XVII, XVIII e
XIX. Essa abordagem fragmentária reflete no governo, na cisão entre a política
social e saúde. Sua maneira de funcionar estar arraigada no rigor do paradigma
cartesiano e pela elegância dos modelos newtonianos; assim, estar cada vez mais
distante da realidade atual. Fadado ao fracasso que é reconhecido por um
público cada vez mais cético, pelos críticos da oposição e pelos próprios
governistas.
Todo o aparato tecnológico de um hospital, como o estetoscópio,
aparelhos para a tomada de pressão, maquina de raios-X, câmeras de vigilância,
só aumentam a impressão que já se tem do hospital: de um ambiente frio e sem
emoção, aonde as pessoas vão para terem suas partes defeituosas concertadas.
Essas máquinas têm seus focos voltados exclusivamente para a doença, e os
médicos têm seus olhos e ouvidos voltados exclusivamente para a máquina, que
não sabe dos sentimentos internos do paciente. No HAPA esse comportamento
parece ser levado ao estremo. Somos “abordados” de forma quase cruel, tratados
como celulares que já não funcionam. Sem comunicação, sem o olhar no olho. Isso
não é de hoje, não é uma exclusividade do governo competente, é uma herança da
incompetência de todos os governos.
Nas ultimas décadas, a medicina passou por grandes revoluções que
revelaram claramente as limitações da visão de mundo mecanicista e levam a uma
visão orgânica, ecológica, que mostra uma estreita conexão entre saúde e o
“todo”; A experiência de nos sentirmos saudáveis envolve a sensação de
integridade física, psicológica e espiritual, um sentimento de equilíbrio entre
os vários componentes do organismo e entre o organismo e seu meio ambiente.
Isto é, para estarmos bem é preciso que a sociedade também esteja. E como vamos
ser um dia uma sociedade saudável se não temos nada de boa qualidade, mesmo que
um dia nossa saúde venha a ser melhorada, tem o transito, a educação, o
mercado, água, lazer, segurança...
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