quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A Mecânica Cartesiana do HAPA


Por: Anaximandro Cavalcanti – Psicólogo 

Três séculos depois de Descartes, o HAPA ainda mantém uma concepção mecanicista que considera o corpo humano como uma máquina.

Essa concepção perde de vista o paciente como ser humano. Essa é talvez a mais séria deficiência de nossa saúde. Uma vez que o homem não pode ser entendido em termos reducionistas.

Saúde é um amplo conceito, um conceito que inclui dimensões individuais, sociais e ecológicas, um conceito que exige uma visão sistêmica dos organismos vivos. Segundo a OMS: "Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não meramente a ausência de doenças ou enfermidades". Ora. No começo de sua historia, a medicina concebia a doença como um distúrbio da pessoa como um todo, envolvendo não só seu corpo como também sua mente, a imagem que tinha de si mesma, sua dependência do meio ambiente físico e social, assim como sua relação com o cosmo e as divindades. Nossos médicos, infelizmente tendem a desprezar esse conceito holístico.

A adoção do paradigma cartesiano dentro dos hospitais, suas preferências por modelos quantitativos e suas negligências pelas estruturas psicológicas dos pacientes, trás sérias desvantagens à população e aos que precisam de seu atendimento.

O atual sistema do HAPA negligencia o atendimento humanizado. Caracteriza-se por este enfoque reducionista e fragmentário, têm suas praticas pautadas na matemática e na metodologia cientifica, mantendo uma visão mecanicista do homem que era predominante nos distantes séculos XVII, XVIII e XIX. Essa abordagem fragmentária reflete no governo, na cisão entre a política social e saúde. Sua maneira de funcionar estar arraigada no rigor do paradigma cartesiano e pela elegância dos modelos newtonianos; assim, estar cada vez mais distante da realidade atual. Fadado ao fracasso que é reconhecido por um público cada vez mais cético, pelos críticos da oposição e pelos próprios governistas.

Todo o aparato tecnológico de um hospital, como o estetoscópio, aparelhos para a tomada de pressão, maquina de raios-X, câmeras de vigilância, só aumentam a impressão que já se tem do hospital: de um ambiente frio e sem emoção, aonde as pessoas vão para terem suas partes defeituosas concertadas. Essas máquinas têm seus focos voltados exclusivamente para a doença, e os médicos têm seus olhos e ouvidos voltados exclusivamente para a máquina, que não sabe dos sentimentos internos do paciente. No HAPA esse comportamento parece ser levado ao estremo. Somos “abordados” de forma quase cruel, tratados como celulares que já não funcionam. Sem comunicação, sem o olhar no olho. Isso não é de hoje, não é uma exclusividade do governo competente, é uma herança da incompetência de todos os governos.


Nas ultimas décadas, a medicina passou por grandes revoluções que revelaram claramente as limitações da visão de mundo mecanicista e levam a uma visão orgânica, ecológica, que mostra uma estreita conexão entre saúde e o “todo”; A experiência de nos sentirmos saudáveis envolve a sensação de integridade física, psicológica e espiritual, um sentimento de equilíbrio entre os vários componentes do organismo e entre o organismo e seu meio ambiente. Isto é, para estarmos bem é preciso que a sociedade também esteja. E como vamos ser um dia uma sociedade saudável se não temos nada de boa qualidade, mesmo que um dia nossa saúde venha a ser melhorada, tem o transito, a educação, o mercado, água, lazer, segurança...

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